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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A origem dos imigrantes do Rio Grande do Sul


Fonte: NOGUEIRA, Arlinda Rocha & HUTTER, Lucy Maffei. A colonização em São Pedro do Rio Grande do Sul durante o Império (1824-1889). Porto Alegre: Garatuja/Instituto Estadual do Livro, 1975, p. 51-57.

"A PROCEDÊNCIA DOS COLONOS QUE SE ESTABELECERAM NA PROVÍNCIA

Entre os colonos europeus que contribuíram para o povoamento dos núcleos coloniais do Rio Grande do Sul, os de origem alemã, em muitos casos, foram numericamente superiores. Recebeu, porém, a Província a participação de elementos oriundos, inclusive, de outros continentes. Tomemos algumas colônias como exemplo.

Os primeiros cento e vinte seis imigrantes que desembarcaram na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul com destino aos núcleos coloniais eram todos de origem alemã. Além de dezessete solteiros, constavam do grupo vinte e seis famílias. Esses imigrantes estabeleceram-se na recém-criada colônia de São Leopoldo.

Com o passar dos anos, muitos colonos de São Leopoldo venderam as terras, já cultivadas, a imigrantes recém-chegados e partiram em busca de terras mais produtivas onde pudessem estabelecer-se. Isso explica por que os primeiros habitantes das colônias dos Conventos, da Estrela, e de Santa Maria da Boca do Monte, e parte dos de Santa Maria da Soledade residiram, anteriormente, em São Leopoldo. Vários colonos dirigiram-se, também, para Triunfo, Taquari e São Jerônimo, onde as terras eram boas e baratas, ao passo que em São Leopoldo além de escassas, atingiam em meados do século XIX preços muito elevados para a época. A colônia de Mundo Novo teve, também, a sua origem com os colonos vindos de São Leopoldo; esses vieram, em parte, das linhas mais antigas da colônia de São Leopoldo; outros eram imigrantes recém-chegados que, não encontrando acomodações na colônia, se dirigiram para a de Mundo Novo.

Os que se estabeleceram na colônia de Rincão d'el Rei eram na maioria pertencentes a famílias alemãs vindas de São Leopoldo.

A Serra de Hamburgo ou Cidade de Hamburgo era povoada, nos meados do século XIX, somente por alemães, o mesmo acontecendo nos recantos da serra e nos vales isolados da região.

Em 1859, a população de Santa Cruz compunha-se, na sua maioria, de alemães, sendo também expressivo o número de nacionais. Mas havia também ali, se bem que em número diminuto, argentinos, dinamarqueses, flamengos, franceses e portugueses.

Na mesma época, na colônia de Santo Ângelo, estavam estabelecidos colonos provenientes dos Reinos da Prússia, da Baviera, de Hanôver, da Saxônia; dos Grão-Ducados de Nassau, de Hesse, de Odenburg, de Baden; dos Ducados de Brunswick e de Holstein; do Principado de Schuarsburg; da França, da Holanda, da Bélgica, da Suíça, das Cidades Livres, além de colonos nacionais, em número apreciável. Aliás, sob este aspecto, Santo Ângelo se constituía numa exceção, na medida em que foi grande o número de famílias brasileiras que requereram a compra de lotes e ali se instalaram. Por volta de 1873, os nacionais passaram a liderar a lista dos que compunham a população na colônia.

Em 1867, Koseritz enviou a Santo Ângelo seis colonos norte-americanos, solteiros, e mais duas famílias alemãs, sendo que todos haviam vindo para a Província por conta do Governo Imperial. Os americanos, depois de terem recebido o donativo em dinheiro e os lotes a que tinham direito, fugiram da colônia, deixando as terras, as casas e as derrubadas já feitas. Os lotes abandonados ficaram à disposição do Governo Geral que, entretanto teve de indenizar por eles a Província.

Fato curioso, a que fazem alusão os relatórios presidenciais, e que muitos colonos do Governo Imperial se recusavam a seguir para as colônias sob administração desse Governo e tiveram que ser localizados em colônias provinciais, como as de Santo Ângelo, Nova Petrópolis e Monte Alverne...Para elas foram enviados, sobretudo os imigrantes naturais da Boêmia, que chegaram ao Brasil por volta de 1877. Também as colônias de Conde D'Eu e D. Isabel não foram povoadas por colonos provinciais e sim por colonos de Governo Imperial, que já não contava com terras para distribuir entre eles.

Muito embora os colonos que se estabeleceram na colônia de Santa Maria da Soledade fossem, até 1859, na sua grande maioria de origem alemã, havia ali também holandeses, nacionais, suíços, belgas e franceses. No mesmo ano contava a colônia de São Lourenço com mais de duzentos habitantes, dos quais apenas trinta e oito eram nacionais, sendo o restante de origem germânica.

Também foram alemães os primeiros habitantes da colônia de Torres. Algumas das famílias ali estabelecidas retiraram-se e deram início à colônia de Três Forquilhas. Cinco anos depois, entretanto, havia em Três Forquilhas predominância de nacionais, seguidos de alemães e de alguns portugueses. Em Mariante ocorria exatamente o contrário: a maior parte dos seus habitantes era alemã, sendo o número de brasileiros bem inferior.

A grande maioria dos habitantes da colônia de Nova Petrópolis, no ano de 1860, era originária dos Estados Alemães. Em número bem inferior havia ali também cinco norte-americanos. Por volta de 1876, uma das linhas da colônia estava quase inteiramente ocupada por colonos na maioria provenientes da Boêmia. Havia também italianos.

Os nacionais, em 1874, lideravam a lista dos colonos existentes em Monte Alverne, seguido de perto pelos alemães; eram bem menores as representações dos austríacos, dos holandeses, dos franceses e dos suíços. Em 1881, porém, os alemães ali residentes passaram à liderança com quinhentas e trinta e oito pessoas, seguidos por quatrocentos e vinte e cinco nacionais.

Até 1867, segundo afirmava Koseritz, os colonos alemães vindos para o Rio Grande do Sul eram, na sua maior parte, oriundos da Pomerânia e da Prússia Renana, sobretudo de um pequeno distrito denominado Hundssuech.

Vieram também para o Rio Grande do Sul, no mesmo ano, emigrantes dos Estados Unidos. De acordo com a procedência, a imigração norte-americana pode ser dividida em dois grupos: os dos estados do norte e os dos estados do sul. Até 1867, a totalidade dos americanos entrados na Província rio-grandense pertencia ao primeiro grupo, uma vez que haviam sido engajados por Quintino Bocayuva, em Nova York. Koseritz condenava francamente os americanos procedentes do norte, apontando, entre outras razões, o fato de promoverem os seus estados, das mais diversas maneiras, a imigração dos europeus para os seus territórios. Assim acreditava que, se dispendiam tantos esforços para atrair imigrantes para as suas terras, não poderiam liberar pessoas que reunissem boas qualidades. Na verdade eram poucos os norte-americanos natos entre os que, provenientes dos Estados Unidos, deram entrada na Província do Rio Grande do Sul. Eram realmente na sua maior parte irlandeses, franceses, ingleses, escoceses; e alguns alemães. A sua opinião, contudo, era totalmente outra no que dizia respeito à vinda de norte-americanos dos estados sulinos.

Por outro lado, na década de 70 começou a afluir à Província, em grande escala, a imigração de italianos vindos do Vale do Pó. Não só a zona rural mas também cidades industriais foram fontes fornecedoras de braços. Dentre os italianos, prevaleceram os procedentes do norte da Itália, isto é, os lombardos, os piemonteses, os tiroleses e, principalmente, os vênetos.

Com base em documentos expedidos pela Presidência da Província referentes aos núcleos coloniais Conde d'Eu e D.Isabel, foi levantada a hipótese de que a imigração italiana no Rio Grande do Sul teve início por volta de 1871, e não em 1875, segundo afirmam muitos autores.

Os imigrantes chegados à colônia D.Isabel inicialmente eram quase todos tiroleses. Aos poucos foram afluindo famílias procedentes de Vicenza, de Treviso, de Cremona, da Lombardia e de Mântua. Alguns meses antes dos tiroleses, chegaram à região quarenta e oito franceses e, na verdade, foram estes os primeiros a se estabelecerem ali.

Quando os primeiros colonos italianos chegaram à colônia Conde D'Eu, em 1875, encontraram algumas famílias suíças do cantão francês.

Por outro lado, em 1876, a população da colônia de São Feliciano era na maioria composta de franceses, sendo bem inferior o número de suíços, italianos, espanhóis, belgas e brasileiros. Em 1881, além desses, encontravam-se ali também alemães.

Os imigrantes que se estabeleceram na colônia Antônio Prado eram na sua quase totalidade de origem italiana. Os primeiros eram originários de Pádua, de Verona, de Mântua e do Tirol, e a eles seguiram-se outros grupos.

De início, para Nova Trento foram imigrantes oriundos do Tirol; para Nova Vicenza, os de Vicenza e Treviso; para Nova Prata seguiram não só italianos como também alguns poloneses; Encantado recebeu imigrantes de Vicenza e de Belluno; para Nova Milano foram, além de italianos, certo número de alemães.

Entre os colonos que se estabeleceram na colônia de Santa Maria da Boca do Monte havia cerca de quatrocentos russos que, todavia, no ano de 1878 abandonaram a colônia, seguindo para Porto Alegre. Temendo que deixassem o Império, antes de concluírem o pagamento dos seus débitos para com o Governo, o desembargador Francisco de Farias Lemos pediu providências à Inspetoria Especial para que isso não ocorresse.

Desde os meados do século XIX encontrava-se na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, certo número de irlandeses. Assim, data de aproximadamente 1852 a tentativa de colonização realizada pelo Coronel Thomaz José de Campos, de Pelotas, com algumas famílias irlandesas nas suas terras, ou mais precisamente, na serra dos Tapes, num lugar chamado Monte Bonito. Informava Koseritz em 1867 que, então, ocorria com a colônia D. Pedro II. Esta recebera, em 1852, quarenta e três famílias irlandesas. Entretanto, em 1859, permaneciam ali apenas dezesseis famílias, pois as demais haviam reemigrado, umas para Montevidéu, outras para Buenos Aires, outras para Pelotas ou, ainda, para Jaguarão. No ano seguinte, com a venda das terras, por causa do malogro da colônia, permaneceram ali apenas cinco famílias, na qualidade de arrendatárias. As outras onze famílias dirigiram-se para os municípios de Rio Grande e Pelotas.

Foi visando a atrair o maior número possível de imigrantes que não só os governos Imperial e Provincial - como também companhias e particulares - cederam ou venderam as suas terras aos colonos que vieram ter à Província rio-grandense, como veremos a seguir."