Trecho extraído de: BENTO, Cláudio Moreira. O negro e descendentes na sociedade do Rio Grande do Sul (1635-1975). Porto Alegre: Grafosul, Instituto Estadual do Livro, 1976, p. 203-204.
"O major Thomaz da Costa, delegado de Polícia de Pelotas, na época, assim descreveu a execução de um escravo de nome Belizário, ocorrida naquela cidade em 1857:
'Foi levado à forca o preto Belizário, que vibrou grande número de punhaladas no senhor e na senhora, deixando-os caídos como mortos.
As vítimas foram D. Manoel Montano (espanhol) e sua esposa.
Esse crime deu-se na área do prédio atualmente no. 164, à Praça da República.
Julgado criminoso, Belizário foi condenado à morte. Sua execução teve lugar à esquerda da antiga ponte de madeira, hoje de cimento armado, à rua Riachuelo, além do Arroio Santa Bárbara, onde existe atualmente uma barraca de couro, LOCAL ONDE FOI LEVANTADA A FORCA.
O condenado saiu da cadeia pela rua Sete de Setembro até a Marechal Deodoro e, por esta a Riachuelo, por onde desceu até o local da forca. Em seguida subiu ao patíbulo. Foi executado.
Para assistir ao horrível ato, o povo, ávido de curiosidade, em todo o trajeto desde a Cadeia até esse local, seguia o condenado, formando volumoso séquito, sob a cadência lúgubre do cerimonial, assim o acompanhando até seu último instante de vida, indo ELE REVESTIDO DA FATAL TÚNICA ALVA DOS ENFORCADOS.
O condenado era também acompanhado pelo Santíssimo Sacramento, pálio, sacerdotes que repetidamente entoavam o memento, irmandade com bandeira de misericórdia, carrasco e tropa'.
Acreditamos que este fato tenha marcado profundamente a população negra de Pelotas.
Talvez uma injustiça pairasse no ar sem explicação.
O suplício de Belizário havia sido adiado durante mais de 6 anos, em razão de conflito de jurisdição surgido entre o delegado e o juiz.
O local de seu suplício passou a ser ponto de encontro nos domingos e dias santos, do meio-dia à noite, da população negra de Pelotas, segundo se conclui de relato do major Thomaz Costa a Fernando Osório.
Fernando Luiz Osório refere-se a mais três execuções de escravos, ocorridas na Praça da Constituição, além do Santa Bárbara, de 1854-1857."