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terça-feira, 29 de agosto de 2017

A Origem das Cores Nacionais do Brasil


Fonte: LUZ, Milton. A história dos símbolos nacionais: a bandeira, o brasão, o selo, o hino. Brasília: Senado Federal, Secretaria Especial de Editoração e Publicações, 1999, 1a. ed., 2005, p. 21-25.

"O VERDE - Do Verde, como cor distintiva de um povo há referências que remontam a mais de dois mil anos. Segundo velhas crônicas, os antigos lusitanos arvoraram uma bandeira quadrada branca, servindo de campo a um dragão verde. O curioso é que esta figura mitológica, vencendo as barreiras do espaço e do tempo, iria aparecer no projeto da nossa primeira Bandeira Nacional, criada por Debret, em 1820. E mais: perduraria até os nossos dias, como emblema regimental dos nossos Dragões da Independência.

Por que o verde fora escolhido pelos lusitanos, uma aguerrida raça de pastores, simples, mas ardorosos amantes da liberdade, os mais forte dentre os mais fortes dos iberos? Seria a lembrança natural da cor dos ramos que por primeiro agitaram como insígnia? Ou dos majestosos carvalhos das encostas da Serra da Estrela, onde o legendário Viriato comandara a heróica resistência de seu povo contra as legiões romanas? O certo é que o verde, desde aqueles tempos ancestrais, lembra as lutas libertárias, as grandes conquistas e, acima de tudo, a esperança e a liberdade.

Na sua agitada guerra contra os mouros, os portugueses adotaram o verde primitivo dos lusos como suas cores nacionais, e este era o matriz da famosa 'Ala dos Namorados', a destemida vanguarda de sua Cruzada. Verde era igualmente o estandarte de Nuno Álvares, arvorado na batalha de Aljubarrota.

Verde seria, muito tempo depois e nestes sertões do Novo Mundo, o pendão do nosso bandeirante Fernão Dias Pais Leme, o Governador das Esmeraldas.

O AMARELO - Desta cor se sabe que passou a figurar, a partir de 1250, no brasão de armas de Portugal, logo depois da conquista do Algarve. Assim, em ouro (amarelo), são os castelos que representavam as fortalezas tomadas aos mouros. O amarelo recorda, ainda, as cores do Reino de Castela, ao qual, por muito tempo. Portugal pertenceu, até a sua independência. É uma esfera armilar de ouro sobre campo azul vem compor as armas do Reino do Brasil.

Em 29 de setembro de 1823, o nosso agente diplomático junto à Corte de Viena descrevera a Metternich a bandeira do novo Império do Brasil. Sobre as suas cores dissera que D. Pedro I escolhera o verde por ser esta a cor da Casa de Bragança; e amarela, 'a Casa de Lorena, de que usa a Família Imperial da Áustria'. A Casa de Bragança procedia de D. Pedro I, antes mesmo do rei, quando ainda simples mestre da Casa de Avis. Aquela Casa reinaria durante 270 anos, desde 1640 até o fim da monarquia portuguesa, em 1910.

O verde é a cor da figura principal do nosso primeiro brasão, as Armas do Estado do Brasil - inspirado na árvore que lhe deu o nome.

O AZUL E O BRANCO - A referência mais antiga sobre estas cores vem de fins do século XI, quando foram adotadas como cores do Condado Portucalense, fundado em 1097. D. Henrique de Borgonha criou, como insígnia, uma bandeira também chamada Bandeira da Fundação: uma cruz esquartelando um campo branco em partes iguais.

São estas mesmas cores que o seu filho, Afonso Henriques, levará à batalha do Ourique, arvoradas na bandeira paterna. Após as primeiras vitórias sobre os mouros, Afonso Henriques lhe modifica o desenho mas mantém as cores, o mesmo azul-e-branco que Luís de Camões defendeu como soldado e exaltou como poeta, 'braços às armas feito, mente às Musas dado'. 

Nos séculos XV e XVI, as naus portuguesas ostentam, ao lado da bandeira oficial, muitas outras de caráter mais restrito: além da bandeira da Ordem de Cristo, a mais importante é a do Comércio Marítimo, que consta de um campo azul com cinco besantes de prata. Besantes são figuras heráldicas que assim se chamam por simularem as 'moedas de Bizâncio', as antigas moedas de ouro e prata. Esta bandeira - a do Comércio Marítimo, ou das Quinas - aparece em um dos primeiros mapas do Brasil, feito em 1534.

O azul entra na história de nossa heráldica por meio de brasões dos nossos capitães feudais. Assim, o blau (azul) é o esmalte das armas de Aires da Cunha, o infortunado donatário do Maranhão (cunhas azuis sobre ouro); e das de Pero de Góis, donatário da capitania de São Tomé (lises azuis sobre prata). Daí por diante, azul-e-branco serão frequentes nos nossos símbolos. Por exemplo: estarão presentes, quase sempre como cores exclusivas, nas bandeiras, insígnias, pavilhões, flâmulas, listel e escudo da Armada do Brasil - estrelas de prata sobre campo blau.

Segundo o Cerimonial da Marinha 'as estrelas usadas nas bandeiras-distintivos e nas bandeiras-insígnias são, sempre, de cinco pontas e seu número não variará com as alterações que venham a ocorrer na divisão política do território nacional."


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Tenente João Salustiano Lyra


Por Fernando Osório

"O impávido e inditoso pelotense Tenente João Salustiano Lyra...

'Tiveste, então, a teu lado, um filho desta cidade adorável, e esse foi o teu prestimoso Tenente João Lyra, ajudante da comissão, cuja memória aqui me deslumbra no reverbero da saudade...'

Proferiu estas palavras o autor do presente ensaio, a 7 de abril de 1922, saudando em nome do Povo de Pelotas ao Gen. Rondon, que respondeu, com impressionante emoção, evocando, com lágrimas nos olhos, a imagem do seu amigo João Salustiano Lyra...

Este pelotense, aos 39 anos, vítima do seu heroísmo, morreu, no dia 3 de abril de 1917, pela ciência, pela Pátria e pela Civilização, ao afrontar o sertão de Mato Grosso, como auxiliar da 'Missão Rondon', o risco das 'corredeiras' impetuosas de um rio. Cumpriu o brilhante soldado os fados de um destino misterioso e nobre! Conduzido pela mão da fatalidade...

O Brasil nele perdeu uma das figuras de esperanças mais fundadas da sua geração, pelo talento, pelo caráter, pelo patriotismo comprovado. Era um espírito privilegiado, cheio de energias, que mais e mais refulgiam, à proporção que se iam desdobrando as facetas primorosas de uma inteligência rara e de uma vontade forte e resoluta. Desde o início do seu curso superior, era João Lyra distinguido pelos mais exigentes professores da nossa Escola Militar. É conhecida a frase de Trompowski, após o seu exame de cálculo integral: 'Há mais de 10 anos, não aparece aqui estudante do seu merecimento'. Era o lisonjeiro prognóstico do provecto mestre confirmado, mais tarde, no campo do próprio magistério, onde veio o Dr. João Lyra a figurar, entre a admiração e a simpatia das novas gerações.

Ele procurou dilatar o vôo de suas aspirações indo buscar, nos mais cultos centros científicos do estrangeiro, o cabedal da técnica moderna, aplicável à arte da sua nobre profissão e aos correlatos problemas da Engenharia. Fez-se, então, especialista em assuntos de eletricidade, aplicada à vasta exploração da indústria, em suas múltiplas modalidades.

Trabalhou, ao lado do Cel. Sisson, na montagem da fábrica de pólvora de Piquete, em S. Paulo. Prestou relevantes serviços à obra dos telégrafos, em companhia de Rondon. Só essa missão bastaria para dar-lhe alto renome, tal o alcance humano da catequese da civilização baseada nos ensinamentos de José Bonifácio. Procedia, aí, João Lyra a estudos topográficos e astronômicos da maior importância, desvendando segredos das florestas virgens, assinalando a posição do regime dos rios, reunindo dados de botânica, geologia e zoologia, palmilhando ermos territórios, jamais pisados pelo homem civilizado. Tal o seu mérito profissional que, mais tarde, ao organizar-se a célebre expedição Roosevelt-Rondon, pelos sertões brasileiros, foi ele destacado para o lugar de astrônomo  - posto em que revelou a sua extraordinária competência - merecendo especiais provas de apreço pessoal e de admiração do notável estadista e explorador americano. Após memorável expedição, em que se realizaram trabalhos geográficos de suma importância, como a determinação das nascentes de um rio até então desconhecido do mundo científico, regressou João Lyra ao Rio de Janeiro, onde professava importante cadeira na Escola Militar. Então veio de novo buscá-lo o Cel. Rondon, seu íntimo amigo, para continuar a auxiliá-lo na comissão de linhas telegráficas.

Foi aí que a morte colheu o inditoso conterrâneo ao afrontar um dos maiores riscos - o das 'corredeiras' impetuosas dos nossos rios interiores - enchendo de luto o coração de Rondon, o impávido bandeirante, que lhe votava especial estima e admiração."


quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Universidade italiana oferece curso on-line grátis de Arqueologia


A Sapienza Università de Roma está oferecendo gratuitamente um curso on-line na área de Arqueologia, disponível na plataforma educacional Coursera. O curso vai abordar elementos básicos de arqueologia, além de técnicas de investigação, preservação e divulgação do patrimônio histórico mundial.

O curso une a abordagem teórica da arqueologia com o uso de tecnologia da informação, como procedimentos de digitalização e cópias digitais tridimensionais.

O curso é gratuito, porém para ser aprovado é exigido um aproveitamento mínimo nos testes propostos e o certificado é adquirido mediante o pagamento de uma taxa de US$ 49 (quarenta e nove dólares).

Links:
Para acessar o curso na plataforma Coursera: https://www.coursera.org/learn/preserving-cultural-heritage#
Para conhecer o link da Sapienza Università de Roma: http://www.uniroma1.it/

Fonte da notícia: Catraca Livre


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Painéis no Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter

Painel-mosaico confeccionado com insetos e aracnídeos apresentado na Exposição Brasileira-Alemã de 1882, em Porto Alegre, que representa a Fábrica de Cervejas Ritter, de Pelotas. Um detalhe curioso é que a letra "S" na palavra "BRASILEIRA" é representada com um cavalo-marinho.

Painel-mosaico confeccionado com insetos e aracnídeos oferecido à Princesa Isabel, em fevereiro de 1885, por ocasião de sua visita (juntamente com o príncipe-consorte, Conde D'Eu) a Pelotas. O painel representa o brasão de armas do Império do Brasil.

O Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter está situado à Rua Barão de Santa Tecla, 576, centro da cidade de Pelotas. A visitação é gratuita. O museu fica aberto nos dias de semana, das 9 às 16 horas.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Histórias Curiosas LV


Fonte: NERY, Sebastião. Folclore político, 3. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 45-46.

"Janeiro de 1951, João Goulart chegou do Rio Grande ministro do Trabalho de Getúlio e presidente nacional do PTB. Instalou o partido no Edifício São Borja, ali na Cinelândia, Roberto Silveira era o secretário-geral, Doutel de Andrade primeiro-secretário. No fundo da sede, montaram um posto gratuito de assistência médica, a cargo de um médico requisitado do SAMDU. O povo ia lá buscar saúde, deixava voto...

Uma tarde, reúne-se a executiva nacional do PTB para resolver uma crise de Minas. O deputado José Raimundo estava brigando com o suplente Machado Sobrinho por causa da política municipal de Itabirito. E eram ambos dirigentes estaduais do partido. José Raimundo fez longa exposição, sentou-se. Machado Sobrinho começou a sua. De repente, emocionado, irritado, empalidece, dá um gemido, cai. Era o enfarte. 

Chamaram às pressas o médico do posto. O homem veio lá do fundo de bata branca, todo desconfiado, ajoelhou-se, pôs a mão no peito de Machado Sobrinho, conferiu o pulso, levantou a cabeça, os olhos arregalados:

- Chama um médico que esse puto vai morrer.

Jango ficou desesperado:

- Mas o senhor não é médico?

- Sou, sim, mas não entendo de enfarte. Chama correndo um médico porque esse puto vai morrer.

Machado Sobrinho morreu mesmo. Doutel de Andrade ficou indignado, exigiu de Jango a demissão do médico:

- Este homem não pode exercer a medicina...

Jango espichou a perna direita:

- Doutel, em que posto do SAMDU ele era lotado?

- Em Irajá.

- Que coisa! Matando a nossa gente. Transfere-o para Copacabana.

- Por que Copacabana?

- Se ele tem que matar, então que vá matando o eleitorado do Lacerda. O nosso, não.

Viveu mais vinte anos. Enterrando, em Copacabana, os eleitores da UDN e da Arena."

domingo, 20 de agosto de 2017

XIII Festa do Agricultor


O evento acontece no próximo domingo, 27 de Agosto, na localidade do Sítio Vasconcelos e inicia-se às 9 horas da manhã com programação variada até a noite. 

sábado, 19 de agosto de 2017

19 de Agosto - Dia do Historiador


O dia 19 de Agosto é do Dia Nacional do Historiador. A comemoração foi instituída em dezembro de 2009, pela Lei 12.130 e faz alusão ao nascimento de Joaquim Nabuco - político, diplomata, historiador, jurista, orador e jornalista brasileiro natural da cidade de Recife, capital de Pernambuco. Nabuco também se destacou como figura abolicionista e defensor da separação entre Igreja e Estado.

Parabéns a todos historiadores, acadêmicos ou não, mas que, sobretudo, são apaixonados pelo estudo do passado, pela investigação dos fatos e pela livre divulgação do conhecimento histórico.

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A origem dos imigrantes do Rio Grande do Sul


Fonte: NOGUEIRA, Arlinda Rocha & HUTTER, Lucy Maffei. A colonização em São Pedro do Rio Grande do Sul durante o Império (1824-1889). Porto Alegre: Garatuja/Instituto Estadual do Livro, 1975, p. 51-57.

"A PROCEDÊNCIA DOS COLONOS QUE SE ESTABELECERAM NA PROVÍNCIA

Entre os colonos europeus que contribuíram para o povoamento dos núcleos coloniais do Rio Grande do Sul, os de origem alemã, em muitos casos, foram numericamente superiores. Recebeu, porém, a Província a participação de elementos oriundos, inclusive, de outros continentes. Tomemos algumas colônias como exemplo.

Os primeiros cento e vinte seis imigrantes que desembarcaram na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul com destino aos núcleos coloniais eram todos de origem alemã. Além de dezessete solteiros, constavam do grupo vinte e seis famílias. Esses imigrantes estabeleceram-se na recém-criada colônia de São Leopoldo.

Com o passar dos anos, muitos colonos de São Leopoldo venderam as terras, já cultivadas, a imigrantes recém-chegados e partiram em busca de terras mais produtivas onde pudessem estabelecer-se. Isso explica por que os primeiros habitantes das colônias dos Conventos, da Estrela, e de Santa Maria da Boca do Monte, e parte dos de Santa Maria da Soledade residiram, anteriormente, em São Leopoldo. Vários colonos dirigiram-se, também, para Triunfo, Taquari e São Jerônimo, onde as terras eram boas e baratas, ao passo que em São Leopoldo além de escassas, atingiam em meados do século XIX preços muito elevados para a época. A colônia de Mundo Novo teve, também, a sua origem com os colonos vindos de São Leopoldo; esses vieram, em parte, das linhas mais antigas da colônia de São Leopoldo; outros eram imigrantes recém-chegados que, não encontrando acomodações na colônia, se dirigiram para a de Mundo Novo.

Os que se estabeleceram na colônia de Rincão d'el Rei eram na maioria pertencentes a famílias alemãs vindas de São Leopoldo.

A Serra de Hamburgo ou Cidade de Hamburgo era povoada, nos meados do século XIX, somente por alemães, o mesmo acontecendo nos recantos da serra e nos vales isolados da região.

Em 1859, a população de Santa Cruz compunha-se, na sua maioria, de alemães, sendo também expressivo o número de nacionais. Mas havia também ali, se bem que em número diminuto, argentinos, dinamarqueses, flamengos, franceses e portugueses.

Na mesma época, na colônia de Santo Ângelo, estavam estabelecidos colonos provenientes dos Reinos da Prússia, da Baviera, de Hanôver, da Saxônia; dos Grão-Ducados de Nassau, de Hesse, de Odenburg, de Baden; dos Ducados de Brunswick e de Holstein; do Principado de Schuarsburg; da França, da Holanda, da Bélgica, da Suíça, das Cidades Livres, além de colonos nacionais, em número apreciável. Aliás, sob este aspecto, Santo Ângelo se constituía numa exceção, na medida em que foi grande o número de famílias brasileiras que requereram a compra de lotes e ali se instalaram. Por volta de 1873, os nacionais passaram a liderar a lista dos que compunham a população na colônia.

Em 1867, Koseritz enviou a Santo Ângelo seis colonos norte-americanos, solteiros, e mais duas famílias alemãs, sendo que todos haviam vindo para a Província por conta do Governo Imperial. Os americanos, depois de terem recebido o donativo em dinheiro e os lotes a que tinham direito, fugiram da colônia, deixando as terras, as casas e as derrubadas já feitas. Os lotes abandonados ficaram à disposição do Governo Geral que, entretanto teve de indenizar por eles a Província.

Fato curioso, a que fazem alusão os relatórios presidenciais, e que muitos colonos do Governo Imperial se recusavam a seguir para as colônias sob administração desse Governo e tiveram que ser localizados em colônias provinciais, como as de Santo Ângelo, Nova Petrópolis e Monte Alverne...Para elas foram enviados, sobretudo os imigrantes naturais da Boêmia, que chegaram ao Brasil por volta de 1877. Também as colônias de Conde D'Eu e D. Isabel não foram povoadas por colonos provinciais e sim por colonos de Governo Imperial, que já não contava com terras para distribuir entre eles.

Muito embora os colonos que se estabeleceram na colônia de Santa Maria da Soledade fossem, até 1859, na sua grande maioria de origem alemã, havia ali também holandeses, nacionais, suíços, belgas e franceses. No mesmo ano contava a colônia de São Lourenço com mais de duzentos habitantes, dos quais apenas trinta e oito eram nacionais, sendo o restante de origem germânica.

Também foram alemães os primeiros habitantes da colônia de Torres. Algumas das famílias ali estabelecidas retiraram-se e deram início à colônia de Três Forquilhas. Cinco anos depois, entretanto, havia em Três Forquilhas predominância de nacionais, seguidos de alemães e de alguns portugueses. Em Mariante ocorria exatamente o contrário: a maior parte dos seus habitantes era alemã, sendo o número de brasileiros bem inferior.

A grande maioria dos habitantes da colônia de Nova Petrópolis, no ano de 1860, era originária dos Estados Alemães. Em número bem inferior havia ali também cinco norte-americanos. Por volta de 1876, uma das linhas da colônia estava quase inteiramente ocupada por colonos na maioria provenientes da Boêmia. Havia também italianos.

Os nacionais, em 1874, lideravam a lista dos colonos existentes em Monte Alverne, seguido de perto pelos alemães; eram bem menores as representações dos austríacos, dos holandeses, dos franceses e dos suíços. Em 1881, porém, os alemães ali residentes passaram à liderança com quinhentas e trinta e oito pessoas, seguidos por quatrocentos e vinte e cinco nacionais.

Até 1867, segundo afirmava Koseritz, os colonos alemães vindos para o Rio Grande do Sul eram, na sua maior parte, oriundos da Pomerânia e da Prússia Renana, sobretudo de um pequeno distrito denominado Hundssuech.

Vieram também para o Rio Grande do Sul, no mesmo ano, emigrantes dos Estados Unidos. De acordo com a procedência, a imigração norte-americana pode ser dividida em dois grupos: os dos estados do norte e os dos estados do sul. Até 1867, a totalidade dos americanos entrados na Província rio-grandense pertencia ao primeiro grupo, uma vez que haviam sido engajados por Quintino Bocayuva, em Nova York. Koseritz condenava francamente os americanos procedentes do norte, apontando, entre outras razões, o fato de promoverem os seus estados, das mais diversas maneiras, a imigração dos europeus para os seus territórios. Assim acreditava que, se dispendiam tantos esforços para atrair imigrantes para as suas terras, não poderiam liberar pessoas que reunissem boas qualidades. Na verdade eram poucos os norte-americanos natos entre os que, provenientes dos Estados Unidos, deram entrada na Província do Rio Grande do Sul. Eram realmente na sua maior parte irlandeses, franceses, ingleses, escoceses; e alguns alemães. A sua opinião, contudo, era totalmente outra no que dizia respeito à vinda de norte-americanos dos estados sulinos.

Por outro lado, na década de 70 começou a afluir à Província, em grande escala, a imigração de italianos vindos do Vale do Pó. Não só a zona rural mas também cidades industriais foram fontes fornecedoras de braços. Dentre os italianos, prevaleceram os procedentes do norte da Itália, isto é, os lombardos, os piemonteses, os tiroleses e, principalmente, os vênetos.

Com base em documentos expedidos pela Presidência da Província referentes aos núcleos coloniais Conde d'Eu e D.Isabel, foi levantada a hipótese de que a imigração italiana no Rio Grande do Sul teve início por volta de 1871, e não em 1875, segundo afirmam muitos autores.

Os imigrantes chegados à colônia D.Isabel inicialmente eram quase todos tiroleses. Aos poucos foram afluindo famílias procedentes de Vicenza, de Treviso, de Cremona, da Lombardia e de Mântua. Alguns meses antes dos tiroleses, chegaram à região quarenta e oito franceses e, na verdade, foram estes os primeiros a se estabelecerem ali.

Quando os primeiros colonos italianos chegaram à colônia Conde D'Eu, em 1875, encontraram algumas famílias suíças do cantão francês.

Por outro lado, em 1876, a população da colônia de São Feliciano era na maioria composta de franceses, sendo bem inferior o número de suíços, italianos, espanhóis, belgas e brasileiros. Em 1881, além desses, encontravam-se ali também alemães.

Os imigrantes que se estabeleceram na colônia Antônio Prado eram na sua quase totalidade de origem italiana. Os primeiros eram originários de Pádua, de Verona, de Mântua e do Tirol, e a eles seguiram-se outros grupos.

De início, para Nova Trento foram imigrantes oriundos do Tirol; para Nova Vicenza, os de Vicenza e Treviso; para Nova Prata seguiram não só italianos como também alguns poloneses; Encantado recebeu imigrantes de Vicenza e de Belluno; para Nova Milano foram, além de italianos, certo número de alemães.

Entre os colonos que se estabeleceram na colônia de Santa Maria da Boca do Monte havia cerca de quatrocentos russos que, todavia, no ano de 1878 abandonaram a colônia, seguindo para Porto Alegre. Temendo que deixassem o Império, antes de concluírem o pagamento dos seus débitos para com o Governo, o desembargador Francisco de Farias Lemos pediu providências à Inspetoria Especial para que isso não ocorresse.

Desde os meados do século XIX encontrava-se na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, certo número de irlandeses. Assim, data de aproximadamente 1852 a tentativa de colonização realizada pelo Coronel Thomaz José de Campos, de Pelotas, com algumas famílias irlandesas nas suas terras, ou mais precisamente, na serra dos Tapes, num lugar chamado Monte Bonito. Informava Koseritz em 1867 que, então, ocorria com a colônia D. Pedro II. Esta recebera, em 1852, quarenta e três famílias irlandesas. Entretanto, em 1859, permaneciam ali apenas dezesseis famílias, pois as demais haviam reemigrado, umas para Montevidéu, outras para Buenos Aires, outras para Pelotas ou, ainda, para Jaguarão. No ano seguinte, com a venda das terras, por causa do malogro da colônia, permaneceram ali apenas cinco famílias, na qualidade de arrendatárias. As outras onze famílias dirigiram-se para os municípios de Rio Grande e Pelotas.

Foi visando a atrair o maior número possível de imigrantes que não só os governos Imperial e Provincial - como também companhias e particulares - cederam ou venderam as suas terras aos colonos que vieram ter à Província rio-grandense, como veremos a seguir."






quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Pretérita Urbe - um interessante canal no YouTube


Eu acompanho e recomendo o canal Pretérita Urbe no YouTube, que traz interessantes vídeos antigos sobre a cidade de Pelotas, desde gravações raras até comerciais de TV. Para quem aprecie revisitar o passado pelo audiovisual, há verdadeiras preciosidades. Inscreva-se!

No vídeo acima, uma pequena descrição do canal, e abaixo, reproduzimos a descrição textual do canal:

O projeto Pretérita Urbe nativo do facebook, Idealizado no legado deixado por Nelson Nobre, teve sua concepção em 13 de julho de 2012. Possui o objetivo de popularizar a história local através da rememoração e extroversão de fatos pretéritos, seja por textos, vídeos ou fotografias. O projeto contribui para que a história de Pelotas seja conhecida por todo o mundo, principalmente por seus habitantes, sendo assim que o pelotense consiga formar o seus laços de pertencimento para com a identidade cultural de Pelotas. 
Envie sua foto e faça parte desta memória.

Página da Pretérita Urbe no facebook (também com muitas fotos): https://www.facebook.com/preteritaurbe/


Vídeo-chamada da I Feira Nacional do Doce (FENADOCE) de Pelotas, em 1986, um dos vídeos disponíveis no canal.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Histórias Curiosas LIV


Fonte: NERY, Sebastião. Folclore político, 2: mais 350 histórias. Rio de Janeiro: Record, 1976, p. 77.

"Antes de 1930, no Rio Grande do Sul, com voto a descoberto, eleições fraudulentas e referendo posterior pela Assembleia, os maragatos jamais ganhavam. Quando ganhavam, não levavam.

Houve uma eleição municipal em Dom Pedrito, os maragatos venceram. O negro Remião ficou enlouquecido de feliz:

- Estou tão satisfeito com essa vitória, que me dá vontade de agarrar esta faca, me matar, só para ir ao céu contar para o doutor Gaspar Silveira Martins que até que enfim ganhamos uma.

Uma semana depois, a Assembleia anula a eleição. O avô do deputado Oscar Fontoura foi lá levar a notícia: 

- Imaginem o que nos fizeram. Anularam tudo.

Negro Remião coçou a barba rala com a ponta da faca:

- Imagine o senhor se eu me percipito."

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A aldeia dos imigrantes alemães

Uma aldeia alemã do tipo "rundling"
Fonte: WEIMER, Günter. A arquitetura rural da imigração alemã. In: WEIMER, Günther (org.). A arquitetura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1987, p. 95-99.

"Para entendermos o universo de problemas que o imigrante teve de enfrentar para construir sua casa ao chegar no Brasil, creio que devêssemos começar por fazer uma confrontação de sua cultura com a que viria encontrar na nova terra. Ainda que as duas culturas fossem de origem europeia, cada uma continha um universo de conceitos e concepções próprios que, se tinham alguns aspectos paralelos, em não poucos casos, eram diametralmente opostos.

Talvez o aspecto mais importante fosse a concepção de Estado. A forma como o mesmo se institucionalizou no Brasil, era de origem lusitana e se caracterizava por uma administração extremamente centralizada. Portugal passou a existir com o seu rei e a inexistência deste significou a perda da independência do país. A identificação entre monarca e nação também foi transferida para o Brasil, onde país, cultura e língua (para citar apenas três parâmetros) eram grandezas perfeitamente identificáveis e sobrepostas. Na Europa Central isto não aconteceu. Desde o início da fase histórica, esta região foi ocupada por diversas tribos com vários tipos de governo, de línguas e de cultura diferentes. Estes povos conviveram lado a lado onde eventuais domínios passageiros de um sobre outro não significaram aniquilamento de uma das partes. Enquanto Portugal era um só reino dizia-se que na Europa Central havia mil. Aí a unidade língua-cultura-nação se rompe e cada categoria passa a ter sua própria dimensão. Tanto isto é verdade que o conceito de nação só viria a se afirmar quando no Brasil estávamos às vésperas de formar uma república. Até hoje existem povos de língua alemã que jamais pertenceram à Alemanha da mesma forma como existem povos de cultura germânica que não falam o alemão.

Em consequência da centralização do poder, surgiram, em Portugal e no Brasil, grandes cidades polarizadoras de uma ampla região pouco povoada. Na Europa Central, ao contrário, havia-se constituído uma ocupação ganglionar com um grande número de pequenas cidades rodeadas por uma infinidade de pequenas aldeias. Se aqui o contraste cidade-interior é acentuado, lá a diferença é bastante atenuada. É claro que a infraestrutura de uma aldeia teria de ser menos diversificada que a de uma cidade. No entanto, a interpenetração de uma na outra era bem marcada. A cidade era, por assim dizer, uma aldeia em escala macro e a aldeia, uma microcidade. Esta origem imprimiu uma conformação diferente às cidades contemporâneas. Aqui temos uma alta densidade no 'centro', que decresce à medida que nos afastamos em direção aos bairros. Nossas cidades têm um aspecto de célula em que a importância das funções é inversamente proporcional à sua distância ao núcleo. Na Alemanha, a cidade tem o aspecto de uma colônia de células em que cada bairro evoluiu de uma antiga aldeia e que mantém uma vida relativamente independente. Aqui os arranha-céus estão no centro; lá, na periferia. Lá, ir ao centro significa ir à cidade histórica, à parte antiga; aqui os centros são constantemente modernizados, com edificações cada vez mais arrojadas.

Quanto à paisagem rural, a diferença não é menos flagrante. Portugal é um país quase árido, onde as raras árvores são as corticeiras e as oliveiras que se destinam à exploração econômica mais imediata. Este modelo foi transplantado para o Brasil. As extensas florestas existentes antes da descoberta foram tombando à medida em que se ia tomando posse da terra e, ainda hoje, assistimos uma desenfreada devastação da floresta amazônica. A Alemanha, apesar de seu enorme desenvolvimento industrial, hoje está coberta em 1/3 de seu território de florestas e a necessidade de se abater algumas centenas de árvores para a ampliação da pista de pouso de um aeroporto pode causar protestos violentos de uma população inconformada. Até o caráter destas florestas é peculiar: em sua maioria, são plantações de coníferas, cuja única utilidade é a exploração da madeira, cultivadas por engenheiros florestais que mais se aproximam de jardineiros que de politécnicos e onde é exercido um cuidado controle do número de exemplares das diversas espécies de animais nativos.

Ao tratar da arquitetura rural, é importante fazermos uma análise da forma física do aldeamento na época da emigração. Seu núcleo, a aldeia propriamente dita, era formada por casas próximas umas às outras, mas ao contrário das vilas lusitanas nunca eram geminadas. Cada casa tinha, nos fundos, uma horta onde eram cultivados legumes e verduras. Atrás desta, havia um pomar de árvores frutíferas. Em consequência desta disposição, o núcleo era rodeado por dois anéis de vegetação, um interno e baixo com outro alto, periférico.

A evolução formal destas aldeias era muito diversificada e variava de região para região. No contexto da arquitetura teuto-gaúcha, convém nos referirmos às tipologias dos três maiores centros de emigração para este Estado. O mais importante é o Hunsrück onde se institucionalizou a Haufendorf ou Punkdorf (aldeia- monte ou ponto) que se caracterizava pelo crescimento irregular do núcleo. É constituído por uma série de vielas curvas que se entrelaçam, formando espaços abertos sem definição geométrica rígida. Por isto são pitorescas e de perspectivas surpreendentes. Na Vestfália, que se caracteriza pelas grandes propriedades (cerca de 10 ha.), se desenvolveu a Strassendorf (aldeia-rua) em que as casas foram construídas ao longo de uma estrada. Este tipo tem uma variante, a Angerdorf (aldeia-logradouro) na qual a rua se transformou numa praça alongada onde, originalmente, era deixado o gado para o pernoite. Também é encontrado na Vestfália. Já na Pomerânia institucionalizou-se uma variante deste tipo na Rundling (arrendondada) que se caracteriza por ter uma praça circular ao redor da qual estão construídas as casas. Se diferencia do tipo anterior por não 'dar passagem' à circulação: tem um só acesso que é entrada e saída da aldeia.

Este núcleo está implantado no meio das terras cultivadas cuja área varia entre 300 e 500 ha. Em geral, as terras eram de propriedade comunal com seção de domínio e estavam divididas em faixas cultivadas longas e estreitas. Cada família dispunha de um certo número destas faixas onde se praticava uma cultura rotativa entremeada com períodos de pousio, quando eram transformadas em pastagens para os animais.

A terra era escassa. Enquanto na Vestfália, através de leis coercitivas de controle do crescimento populacional, a propriedade se manteve em torno de 10 ha., no Hünsruck 4/5 dos agricultores tinham menos de 5 ha. (onde 15% tinha menos de 0,5 ha). Na Pomerânia ainda vigorava o sistema feudal onde o agricultor não tinha posse da terra.

Essas condições eram de tal ordem que era impossível a sobrevivência da unidade familiar explorando exclusivamente a terra. Por isto foi sendo agregado um trabalho complementar com um vigoroso desenvolvimento do artesanato.

Neste sentido, a existência da floresta periférica à aldeia é duplamente importante. Se, por um lado, fornecia a madeira para o artesanato, atendia ao abastecimento de combustível vital para o aquecimento de homens e animais durante o longo inverno quando os termômetros podiam baixar a 40 graus centígrados negativos.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

IHGPel promove programação alusiva ao Dia do Patrimônio


Na sexta-feira, 18 de Agosto, e no sábado, 19 de Agosto, o Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPel) promove programação alusiva ao Dia do Patrimônio Histórico. O evento acontecerá no prédio da antiga Estação Férrea de Pelotas e terá visitação aberta ao público nos dois dias, das 10h às 17h. No dia 18, ainda acontecerá a palestra proferida pelo Prof. Gilberto Demari Alves (presidente do IHGPel) com o tema "Caminhos de Ferro do Sul", das 17h às 18h30min. No sábado, em paralelo à visitação, também estará ocorrendo uma exposição de carros antigos no largo da estação.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

O El Dorado


Trecho extraído de: SELECÇÕES DO READER'S DIGEST. O grande livro do maravilhoso e do fantástico. Lisboa: Selecções do Reader's Digest, 1977, p. 269-270.

"Durante séculos, os corações e os espíritos dos homens sentiram-se fascinados pelo Eldorado, a lendária cidade do ouro, o local recôndito que albergava tesouros fabulosos, oculto algures nos Andes.

Centenas de exploradores, em busca de fortunas, viajaram através da selva e das serras - e morreram nessa busca.

No entanto, provas recentes sugerem que a sua procura estava desde o início irremediavelmente condenada ao fracasso, pois o Eldorado pode não ter sido uma cidade, mas sim um homem.

A lenda do Eldorado surgiu pela primeira vez no Mundo através dos conquistadores espanhóis que, comandados por Pizarro, penetraram na América do Sul nos começos do século XVI.

À medida que abriam caminho através do continente, os espanhóis ouviam relatos sobre os chibcha, índios adoradores do Sol, que viviam nos planaltos elevados e frios, nas proximidades da actual cidade de Bogotá, capital da Colômbia. Segundo constava, a tribo venerava  o ouro, considerado o metal do deus Sol. Os seus membros adornavam-se com objectos de ouro e, durante mais de 2000 anos, revestirem os seus edifícios com folhas do precioso metal.

Em 1535 o espanhol Luís Daca afirmou que um índio lhe mencionara a existência de um lago na montanha sagrada cheio de ouro. Outros contaram terem encontrado um chefe de tribo envergando um traje de ouro numa cidade chamada Omagua.

Em mapas antigos

Com a divulgação destes relatos, Eldorado passou a ser considerado como uma cidade de ouro, que antigos mapas do Brasil e das Guianas chegam mesmo a assinalar, embora se ignorasse com exactidão a sua localização. 

No século XVI um banqueiro, Bartolomeus Welser, enviou diversas expedições ao local que é actualmente a Colômbia em busca do Eldorado. Os seus homens chegaram mesmo a torturar índios para deles obterem informações, que sempre se revelaram inúteis. Todas as expedições se malograram.

Mas a lenda da fabulosa cidade parece ter ofuscado os exploradores, impedindo-os de analisarem as próprias palavras, sempre presentes nos seus lábios, e de ventilarem a hipótese de Eldorado significar não o local dourado, mas o homem dourado.

O Homem de Ouro

Os chibcha não só adoravam o Sol como também o seu chefe, ente sagrado que nenhum membro da tribo podia contemplar. Uma vez por ano, porém, segundo a lenda, este chefe era objecto de um complicado ritual. Mantendo os olhos fechados, os membros da tribo untavam-no com resina, após o que sopravam ouro em pó sobre o seu corpo, revestindo-o completamente desse metal precioso - donde o nome de Eldorado que lhes era atribuído.

Depois carregavam uma jangada com inúmeras imagens de animais e ornamentos de ouro. Esta era conduzida a remos para o meio do lago sagrado, o Guatavita, onde o chefe lançava à água as valiosas oferendas da tribo.

O lago Guatavita existe de facto. Mas as provas da existência do Homem Dourado mantiveram-se tão vagas quanto as da existência da cidade, até que, em 1969, a 2 agricultores que procuravam um cão perdido nos montes, a algumas horas de automóvel de Bogotá, ao perscrutarem o interior de uma pequena gruta, deparou-se-lhes uma miniatura de jangada, feita de ouro maciço e requintadamente trabalhada, tripulada por 8 minúsculos remadores - de costas voltadas para a régia figura dourada do seu chefe sagrado.

No entanto, Guatavita continua a recusar ceder os seus tesouros dourados. O espanhol Gonzalo de Quesada, que conquistou a região em 1537-1538, obrigou 8000 índios a abrirem uma brecha na margem do lago, para lhe baixar o nível. Mas as paredes do canal desmoronaram-se e os índios, receando a ira do deus Sol, a quem tentavam subtrair o tesouro, interromperam os trabalhos.

Ainda em 1823 e em 1900 se procedeu a mais 2 tentativas de drenagem do Guatavita, mas, embora tivessem sido encontradas valiosas relíquias, as profundidades do lago, de formas afuniladas, nunca foram sondadas. E foi aí que, segunda consta, Eldorado - o Homem de Ouro - afundou as oferendas mais valiosas destinadas a apaziguar os deuses irados."


domingo, 6 de agosto de 2017

Protesto Inusitado na BR-392


No dia de hoje, domingo, 06 de Agosto, por volta de 12h40min, ao passar de carro pela rodovia BR-392 (Pelotas-Rio Grande), no trecho em que se cruza do fim do bairro Fragata em direção ao campus da Universidade Federal de Pelotas, no Capão do Leão, havia um diminuto e inusitado protesto naquele trevo. Uma faixa com os dizeres "Intervenção militar já, todo poder emana do povo" chamava a atenção dos passantes. Ao lado, um casal solitário segurava uma placa com a inscrição "Se concorda, buzine".

Curioso!

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Bicicletas em Pelotas


Fonte: MAGALHÃES, Mario Osorio. História aos domingos (coletânea de artigos publicados no Diário Popular entre setembro de 2001 e setembro de 2003). Pelotas: Livraria Mundial, 2003, p. 129-132.

"O site da Caloi, na internet, conta que a história da bicicleta tem início em 1790, ano que foi criado o Celerífero, 'veículo primitivo de duas rodas, ligadas por uma ponte de madeira, em forma de cavalo, e acionadas por impulsos alternados dos pés sobre o chão'. Dois marcos da sua evolução ocorreram quase cem anos depois, em 1887, quando o irlandês James Boyd Dunlop inventou o pneu, e exatamente cem anos depois, em 1890, quando Michelin inventou o pneu desmontável. A partir daí, suas maiores modificações foram a roda livre, a tubular e o câmbio.

Em Pelotas, as primeiras bicicletas apareceram em 1885 - antes da invenção do pneu. É o que conta Matias de Albuquerque, num artigo publicado no Diário Popular de 20 de setembro de 1953.

Foram adquiridas pelo Visconde de Souza Soares, para servir de diversão a quem frequentava, sobretudo nos domingos e dias santos, as memoráveis tardes do Parque Pelotense; como não eram novas, mas já usadas, supõe-se que houvessem pertencido a algum circo de variedades, dos muitos que excursionavam pela cidade. Sua armação era metálica, as rodas, de madeira, eram chapeadas de ferro, seus pedais acionavam a roda anterior e elas tinham o comprimento de um metro e oitenta centímetros.

No ano seguinte surgiu por aqui um modelo mais elegante: o velocípede. A roda da frente tinha um metro e vinte de diâmetro, e a de trás, trinta e cinco centímetros; eram de borracha maciça. Seu pedal, ao contrário das primeiras, era na roda da frente. O usuário subia nela correndo, depois de dar impulso e apoiar-se num suporte, que havia na roda traseira. Pertencia, esta, a Bernardo da Nova Monteiro.

Dez anos depois - em 1896 - apareceram em Pelotas seis bicicletas da marca Clément, com pneus da fábrica Dunlop (portanto, nove anos depois da sua invenção). Seus proprietários: dois irmãos Leivas Leite, dois irmãos Simões Lopes, dois irmãos Souza Soares. Estes, Leopoldo e Miguel, filhos do Visconde português, dono do Parque, estudavam em Rio Grande, e faziam grande sucesso quando saíam pelas ruas da cidade vizinha, onde as bicicletas ainda não eram conhecidas. Acumulava-se gente nas portas das casas, dos bares, das lojas, dos armazéns, para admirar a novidade mas se divertir a valer, também, com a voracidade dos cães, que se atiravam às pernas desses pioneiros do ciclismo!

Em 1897, chegou aqui um modelo de outra marca, 'La Française', encomendado por Carino de Souza e acompanhado por dois trajes completos de ciclista.

Pouco depois surgiu a primeira 'tandem', ou 'dupleta', de grande comprimento e com dois selins. Era montada pelos irmãos Le Coultre, relojoeiros suíços.

A seguir, Hermann Von Huelsen, mecânico aqui estabelecido, aumentou a velocidade de sua bicicleta, adaptando a ela uma pinha e uma roda dentada bem maiores que o normal. Nesse veículo, desafiou o campeão rio-grandino da época e o venceu, em memorável corrida no Prado Pelotense. Disputou um 'match', mais tarde, com um cavalo (!), saindo igualmente vencedor.

Foi então que apareceram as outras modificações, que mencionei atrás: a roda livre, o tubular e o câmbio. Ah, e também as lanternas movidas a pilha, já que as mais antigas eram acionadas por querosene, depois por gás acetileno e, depois, por eletricidade.

Só não menciona Matias de Albuquerque, nesse artigo, que em 14 de novembro de 1897 já era fundado em Pelotas, um Clube Ciclista. Nem que o seu primeiro presidente foi J. Simões Lopes Neto, o nosso maior escritor, autor dos Contos gauchescos, das Lendas do Sul e dos Causos do Romualdo. Deixa de comentar, por isso, um desfile realizado em fevereiro de 1898, no qual se destacaram o sr. Heráclito Brusque, com 'sua custosa e elegante vestimenta, de camiseta de seda, com listras ouro e preto, calção preto e meias de seda, cores também iguais à camiseta', e o próprio capitão João Simões, que 'ostentava belíssima borboleta presa ao guidon de sua bicicleta'."

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

I Campeonato Gaúcho de Enduro Mountain Bike - Etapa Capão do Leão


Nos dias 5 e 6 de agosto, Capão do Leão sediará o 1º Campeonato Gaúcho de Enduro Mountain Bike.
O município, privilegiado pela geografia, dispõe de locais apropriados e indicados para a prática de esportes radicais e de aventura. Neste sentido, a competição, que conta com o apoio da Prefeitura, além de reunir atletas que praticam o esporte no Estado e no país, contribui com a divulgação das paisagens naturais do município, estimulando o turismo e a economia local.

No Estado este é o primeiro Campeonato nos moldes do Enduro Word Series.
A proposta desta modalidade é manter a essência do mountain bike – ciclismo de montanha – com regras e adaptações para a competição. No Enduro, os atletas se deslocam até topos de montanhas e fazem trechos cronometrados nas partes de descidas, que são longas e exigem muito da parte física do competidor.

A primeira etapa do Campeonato Gaúcho ocorreu em junho, em Nova Hartz. Capão do Leão sediará a segunda fase da competição. A etapa final acontecerá entre os dias 18 e 19 de novembro, no município de São Marcos.


Museu Carlos Ritter promove Exposição "Patrimônio e Meio Ambiente"


O Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter, vinculado à Universidade Federal de Pelotas, localizado à Rua Barão de Santa Tecla n. 576, centro da mesma cidade, promove entre os dias 07 e 18 de Agosto a exposição "Patrimônio e Meio Ambiente" com uma série de atividades de educação ambiental e educação patrimonial. A entrada é franca. Visitas escolares devem ser agendadas pelo fone (53) 3222-0880.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Yolanda Huelsen Santana


Yolanda Huelsen Santana é minha falecida bisavó (1916-1981). Nascida Yolanda Von Huelsen, era filha de Wilhelm Von Huelsen, alemão migrante nascido na região da Baixa Saxônia, e sobrinha de Hermann Von Huelsen, também alemão que foi um dos pioneiros do aperfeiçoamento da bicicleta no Brasil. Atualmente, ela denomina uma rua na Vila Caruccio, bairro Fragata, Pelotas. Yolanda foi casada com Ary Francisco Dias, sendo que, desta união nasceu meu avô: Orieny Francisco Huelsen Dias. Ela ficou viúva muito jovem, em 1940, e mais tarde, veio a contrair novas núpcias com o senhor Dorothéo Santana, incorporando o nome do marido ao próprio. Abaixo segue o Decreto Legislativo no. 165/1997, de 31 de Março de 1997 que deu o nome à rua a qual ela é homenageada, juntamente com o pequeno histórico que acompanha o decreto.

"DECRETO LEGISLATIVO No. 165/97, DE 31 DE MARÇO DE 1997:

Art. 1o. - Dá o nome de Yolanda Huelsen Santana à rua 5, da Vila Caruccio, no Bairro Fragata.

Art. 2o. - Yolanda Huelsen Santana foi grande professora e sua vida direcionou-se ao magistério, na zona rural.

(...)

Nasceu em Pelotas, no dia 05 de Fevereiro de 1916. Foi professora municipal em Canguçu, Ares Alegres e Canguçu Velho, zona rural. Transferiu-se para Pelotas, onde exerceu sua profissão nas escolas João Ribeiro, no Rincão da Caneleira; José de Alencar, na Colônia do Sítio; Benjamin Manoel Amarante, na Colônia Santa Áurea; e Nossa Senhora de Lourdes, no Fragata.

Na zona rural, também serviu à comunidade com serviços de enfermagem. No município, teve que suspender as aulas, por ordem do prefeito Dr. Jayme Farias, que era médico, para atender os enfermos, na época do tifo, aplicando injeções, remédios, preparando corpos nos caixões fúnebres, sempre montada em cavalos emprestados. Foi mãe e esposa muito abnegada e amorosa, dedicada à família e à vasta amizade que conquistou em toda a sua vida.

Em 1969, foi agraciada com o Prêmio Ruy Barbosa, pelos serviços emprestados à educação, honraria concedida pelo Ministério da Educação do Governo Federal.