Amanhã, às 11 horas, na Praça João Gomes, a Família Silva estará homenageando a memória do ex-emancipacionista e vereador leonense Enedino Silva (1916-1983). Na ocasião, será inaugurada uma placa em sua memória.
História, Genealogia, Opinião, Onomástica e Curiosidades.Capão do Leão/RS. Para informações ou colaborações com o blog: joaquimdias.1980@gmail.com
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sexta-feira, 26 de maio de 2017
quarta-feira, 24 de maio de 2017
O Pistoleiro de Serra Talhada
Primeira parte do vídeo da reportagem do Globo Repórter em 1977
Segunda parte do vídeo da reportagem do Globo Repórter em 1977
Encontrei por acaso estes dois vídeos no YouTube e fiquei muito admirado pela trama que se desenvolve na história. Posso afirmar que assisti com muito interesse a reportagem sobre Vilmar Gaia - o pistoleiro de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco. Compartilho aqui aos leitores do blog pelo interesse histórico que a reportagem traz e por mostrar um sertão do país ainda marcado pelo banditismo e violência.
Seguem abaixo dois links com mais informações:
sábado, 13 de maio de 2017
Poloneses em Pelotas
Trecho extraído de: Diário de Notícias, 25 de Julho de 1958, pág. 10
"Poloneses em Pelotas
A bela, culta e hospitaleira 'Princesa do Sul', recebeu os imigrantes poloneses embora em menor número, na mesma época que os recebeu a vizinha cidade do Rio Grande. Em 1898 encontramos, ali, perfeitamente radicadas, cêrca de 30 famílias debaixo da tutela espiritual do Revdo. Padre Jan Zblewski. Em 1924 residiam em Pelotas cêrca de 300 poloneses, segundo nos informa o ex-consul, Dr. Kazimierz Gluchowski, o que sem dúvida, constitui um grupo muito menor do que na vizinha cidade portuária. Não obstante tal fato, foi organizada, também, uma sociedade cultural, sob o nome do consagrado escritor de fama universal Henryks Sienkiewicz, que agrupou, inicialmente 14 famílias residentes na cidade. Embora o patrimônio da referida sociedade fosse na época, apenas de Cr$ 2.000,00, eram bastante ativas e originais às suas atividades, segundo veremos pelo relato pessoal feito em junho do corrente ano, pelo ex-presidente Sr. Leonardo Klemowski: 'A Sociedade Henryk Sienkiewicz', teve seu início em 1904. As poucas famílias existentes em Pelotas, compunham-se na sua maior parte de operários, tais como: tecelões, marceneiros, mecânicos, carpinteiros, etc. que prestavam os seus serviços profissionais às diversas indústrias e empresas espalhadas pela cidade.
A idéia de uma sociedade surgiu em face do natural desejo de se reunirem em grupo, afim de evocarem as suas tradições e concorrerem, dentro de suas modestas possibilidades econômicas, para auxiliarem o Governo Polônes no exílio, cuja sede, se encontra na cidade suíça denominada Rapesville. A iniciativa desta campanha fora feita pelos Srs. Antonio Wolski, Jan Dobrzynski, Piotr Olendzki, que costumavam reunir-se na casa do Sr. Teodor Brzeski. Embora em pequeno número, porém movidos por uma causa nobre ou seja pela liberdade de sua pátria, que nesta época era subjugada e tiranizada por cruéis invasores - aquêles bravos pioneiros, nunca esmoreceram ante as dificuldades ou desilusões. Organizaram festas, reuniões e bailes em casas dos amigos e parentes, cada vez em outro local. Dêste modo surgiu definitivamente a 'Sociedade Polonêsa Henrique Sienkiewicz', com estatutos e séde própria. Vivem dias de intensa atividade social e cultural, apresentando festivais, teatros, organizando recepções a visitantes ilustres como o foram Sua Excelência Reverendíssima Dom Dr. Teodor Kubina, famoso e prestigioso prelado polonês, e Dr. Tadeusz Grabowski, que fôra Ministro Plenipotenciário e Enviado Extraordinário da Polônia no Brasil.
Lamentavelmente, durante a campanha de nacionalização, sem motivo algum, passou a vegetar, até o corrente ano. Há poucos meses ressurgiu novamente, com a séde reformada, e com estatutos também modificados de acôrdo com a época e a realidade nacional. Merecem destaque especial as atividades desenvolvidas há meio século, pelos Srs. Stanislaw Szafarski, Josef Lugowski, Roman Murowaniecki, Ludwik Skrzesinski e Wladyslaw Nasilewski, Stefan Lange, bem como do nosso informante, Sr. Kleinowski.
A séde própria, sómente tornou-se realidade em 1920, graças à generosidade e cooperação de tôda a colonia radicada em Pelotas.
No pequeno cenário da etnia polonesa no sul do Rio Grande, projetam-se, ainda, o prof. SILVIN DERENGOWSKI, na qualidade de lente da cadeira de Geometria Descritiva e Desenhos da 'Escola Eliseu Maciel' e o professor CZESLAW MARJAN BIEZANKO, do qual nos ocuparemos em especial, numa reportagem separada. O prof. DERENGOWSKI, falecido em 1937, segundo informações prestadas pelo ilustre Eng. Agrônomo Biezanko: 'deixou uma gratíssima lembrança entre os seus colegas e alunos. Os seus filhos concluíram brilhantemente as escolas militares e pertencem hoje, ao patrimônio ativo do Exército Nacional."
quinta-feira, 11 de maio de 2017
Juvêncio Pereira - o terror da Serra dos Tapes
Interior do município de Cerrito |
Célebre, Celebérrimo,
famigerado, facínora, lendário, inditoso, façanhudo, terror, celerado – eis
alguns dos adjetivos que pululavam em jornais de Pelotas, Rio Grande, Jaguarão,
Bagé, Porto Alegre, e até mesmo na capital do império, o Rio de Janeiro, quando
na década de 1880 ia se noticiar as bandidagens de Cândido Juvêncio Pereira, ou
simplesmente Juvêncio Pereira, como era mais conhecido.
Juvêncio Pereira era procedente da freguesia do
Cerrito (hoje município), que na época pertencia ao município de Canguçu.
Nasceu por volta de 1851 ou 1852 e desde a mais tenra juventude já era
conhecido por suas contravenções. Consta que desertou da Guarda Nacional em
1873 e se ocultou durante certo tempo no interior de Canguçu em razão disso.
Todavia, voltou a morar na freguesia do Cerrito e não era pessoa muito bem
vista na comunidade, pois o alcunhavam bandido
de longos tempos na região. Agia no interior, praticando roubos diversos,
quase sempre buscando dinheiro ou objetos de valor. Também era de uma família
conhecida pela má-fama. Tinha um irmão, João Pereira, que o acompanhava nos
crimes, e um primo de apelido Belo Pereira (Belarmino Pereira de Castro),
igualmente biltre. Os Pereira do
distrito do Cerrito encontraram confrades perfeitos para sua vida de crimes
entre os Couto de Canguçu, dentre os
quais se destacavam Francisco Luiz Couto, Galiano Couto, Raphael Couto,
Marciano e Camillo Couto. Importante destacar que esta aliança criminosa entre
as duas famílias vai ser a origem do bando liderado pelo próprio Juvêncio anos
depois.
A entrada de Juvêncio Pereira na notoriedade pública
muito além do pequeno mundo da freguesia do Cerrito se deu em 08 de Junho de
1880, quando assassinou Luiz Manoel Guerreiro, de 24 anos, após ter ido a casa
deste na localidade do Tatu cobrar
uma suposta dívida por causa de uma carreira de cavalos perdida. A partir de
então, a clandestinidade passou a ser sua marca e se tornou um típico
bandoleiro – acoitado, nômade, ladrão, assassino. Aterrorizou o interior de
Canguçu, Piratini e Pelotas, sendo caçado por diversas patrulhas, envolvendo-se
em fugas espetaculares, tiroteios e mortes.
No inverno de 1882, foi preso pela primeira vez pela
polícia de Canguçu numa escaramuça com a polícia nas imediações da Coxilha das
Três Pedras. Preso, foi julgado logo em seguida e condenado às galés perpétuas
(trabalhos forçados) pelo juiz da comarca daquele município. A prisão foi uma
mera trivialidade na trajetória de Juvêncio Pereira. Aproveitando-se da
precariedade da cadeia, Juvêncio organizou a própria fuga e a dos demais presos
na noite do dia 15 de Setembro de 1882. Todos escaparam para pavor dos
moradores.
O Bando de Juvêncio
O bando de
Juvêncio era composto pelo consórcio entre os Pereira e os Couto, mas atraía
para si toda sorte de delinquentes que passaram a enxergar em Juvêncio Pereira
uma espécie de personagem lendário. Também faziam parte da quadrilha: João
Manoel de Barros (procedente de Camaquã), Vicente José Gonçalves, Manoel de
Braga (pardo quilombola), Adriano Soares de Maia (português), Florentino
Marques de Bittencourt (alcunhado Florindo
Casú), João Nepomuceno, João Pequeno, José Miguel, Timóteo dos Santos,
Rivadavia (uruguaio procedente de Durazno), Francisco Ayres Filho, José
Gonçalves (procedente do Passo das Pedras, distrito da Buena), Zeferino
Ermelino Furtado, José Ventura, Emygdio Borges, Honório “Piaco” Feijó (de
Arroio Grande, associado ao bando, porém aparentemente líder de uma quadrilha
própria), Serafim Estrella, Petrônio Álvares, Serrão Pacheco, Testa Furada,
entre vários outros ignorados. No auge de suas tropelias em Canguçu, os
cronistas da época afirmam que Juvêncio chegou a arregimentar mais de 30
homens. Nos momentos em que eram quase desbaratados, o núcleo podia descer a
meros três ou quatro meliantes. Também há o registro que várias mulheres
acompanhavam o bando na condição de concubinas. Segundo os noticiários, muitas
delas teriam sido obrigadas a se
amancebar.
Galiano Couto era o imediato de Juvêncio, uma espécie
de homem de confiança do criminoso. Posteriormente,
essa função será delegada a Serrão Pacheco, mas este ainda é apenas um dos
quadrilheiros de Juvêncio. Ressalve-se que vários membros do bando foram mortos
e presos em momentos diferentes e Juvêncio desde a fuga da prisão em 1882
manteve-se sempre a salvo.
Durante o ano de 1883, Juvêncio Pereira e seus
bandoleiros aterrorizam as freguesias do Cerrito e da Buena, e o sul de
Canguçu, chegando mesmo perto do núcleo urbano, mas também fazendo incursões
além do rio Piratini, aparecendo em Arroio Grande e também na área da antiga capital
farroupilha. No ano seguinte, o bando intensifica suas ações e passa a ser nota
frequente nos jornais da região.
Em 04 de fevereiro de 1884, Juvêncio Pereira e
Francisco Ayres Filho surpreendem, roubam e matam os mascates italianos Pedro
Brancati e Antonio Sanzio nas matas da freguesia do Cerrito. Logo em seguida, em 02 de março o bando é
visto furtando gado na freguesia de Santa Isabel, Arroio Grande. Ainda no fim
deste mês, veementes pedidos de socorro provêm da região do Arroio Malo, em
Herval. Em suma, o nomadismo dos salteadores é muito evidente, igualmente
porque patrulhas policiais das mais diferentes freguesias e cidades se põem ao
encalço dos bandidos. No dia 09 de abril, violento tiroteio entre a quadrilha
de Juvêncio Pereira e a força policial do subdelegado Bernardino Ferreira Porto
ocorre no Passo dos Marmeleiros, Canguçu. Há muitos mortos entre os bandoleiros
e se informa falsamente que Juvêncio Pereira também está entre as vítimas
fatais. Apesar das baixas entre os criminosos e alguns presos, Juvêncio escapa
com vida e parte da quadrilha se mantém em sua trajetória desvairada.
Logo em seguida, em maio ocorre outro crime de grande
repercussão: a morte de uma família de nove pessoas no Passo das Pedras
(freguesia da Buena, hoje parte do município de Capão do Leão). Mais gente da
quadrilha passa a ser presas em diferentes localidades, mas Juvêncio mantém-se
escondido. Em junho, outro tiroteio com a polícia nas imediações do Cerro do
Graxaim, em Canguçu. Em julho, roubo a uma casa comercial no 2º. distrito de
Piratini, onde os bandidos usando máscaras espancam até a morte o dono do
estabelecimento, o espanhol Pedro Miguel Leyoñoz. Novos crimes se sucedem no
Cerrito e na Buena – espécie de área preferencial de Juvêncio e seus asseclas.
Um detalhe ímpar da ação do bando é que os criminosos
juram de morte cada um dos que os perseguem ou ainda pior os traem. Relatos dão
conta que informantes são assassinados em suas casas na calada da noite e os
bandidos fazem questão de propagar juras intimidatórias a delegados e chefes de
polícia. Os dois mais odiados (e justamente aqueles que infringiam a
perseguição mais intensa a quadrilha) são Bernardino Ferreira Porto,
subdelegado do Cerrito, e o capitão João Manoel Barbosa, subdelegado da Buena.
A morte de Bernardino Porto e a fuga para o Oeste
Em 25 de Outubro de 1884, no Passo do Vieira
(atualmente parte do município de Morro Redondo), o subdelegado Bernardino
Ferreira Porto e o soldado Raymundo Serra em expedição a cavalo em busca dos
bandoleiros de Juvêncio Pereira se deparam com dois indivíduos deitados e dormindo
na aba de um capão de mato e supondo que eram companheiros da mesma
jornada, dirigiram-se a eles sem a menor prevenção. O desfecho do encontro
é trágico: os dois homens são o próprio Juvêncio Pereira e Marciano Couto.
Sobressaltado, Juvêncio puxa a pistola que trazia na cintura e fere mortalmente
o subdelegado Bernardino Porto, que imediatamente cai em agonia. O soldado
Serra depois do primeiro tiro, desfere outro sobre Marciano Couto que é
fulminado ali mesmo. Allucinado e
persuadido que havia mais gente a persegui-lo, Juvencio Pereira bateu em
retirada para o mato, atirando, porém, ainda alguns tiros sobre o companheiro
de sua victima que o perseguia a distancia. Vários petrechos de seu arsenal de guerra são deixados por Juvêncio, que
dizem estar ferido e refugiado nas matas da região. Alguns julgam que ele possa estar morto.
Ainda não.
A morte de Bernardino Porto causa profunda impressão
em toda a região, pois o subdelegado era considerado o mais implacável perseguidor do facínora. Os jornais repercutem o
acontecido, solicita-se apoio do governo da província, lamenta-se em toda a
parte os malogros da polícia.
Contudo,
quatro dias depois da morte de Porto, a força policial de Cerrito com apoio do
subdestacamento da Buena e de guarda de Canguçu trava novo conflito com os
bandoleiros. Tiroteio pesado entre os dois grupos próximo ao Passo de Maria
Gomes, com muitos mortos e feridos. Morrem José Ferreira Porto (irmão de
Bernardino) e o fiscal Antônio Maria do lado da polícia. Do lado dos bandidos,
vários são alvejados fatalmente e João Pereira (irmão de Juvêncio) e Serafim
Estrella são presos. Armamentos e munição são confiscados. Brevemente, os
sucessos das autoridades de segurança induzem falsamente que a quadrilha está
abatida. Juvêncio e alguns de seus seguidores conseguem escapar e fogem para o
oeste.
Provavelmente
para reorganizar o bando e conseguir novos recursos para recuperarem armas e
munições, Juvêncio intensifica seus roubos e a violência empregada. Em novembro
de 1884, consta um assalto com espancamento até a morte no Passo do
Acampamento, em Piratini, na estalagem de Pedro Miguel Sobreira, onde também
são roubados mais de quinhentos mil réis. Na mesma empreitada, um caixeiro do
financista Pedro Espelet é roubado de todos os seus provimentos, mas tem melhor
sorte e consegue evitar a morte certa se evadindo em meio a vegetação. Ataques
registrados na localidade do Juncal, em Jaguarão. Em seguida, latrocínios em
Pedras Altas. Sucedem-se ataques a propriedades de Israel Fagundes (três contos
de réis) e Zeferino Faria (cinco contos de réis) já em Cacimbinhas (atual
município de Pinheiro Machado). O ano está terminando e se tem notícia que os
bandoleiros entram em confronto com outros bandidos próximo a Dom Pedrito. No
dia 14 de dezembro, observa-se a quadrilha na Bolena, em Bagé. Os jornais
chegam a afirmar que em janeiro de 1885, Juvêncio Pereira já rondava
Uruguaiana. O bando, porém, não se demora na Campanha. O retorno será breve.
O retorno de Juvêncio e o grande revés do bando
No dia 18 de fevereiro de 1885, Juvêncio e seus
bandidos atacam a casa de Domingos Antônio Barbosa, próximo ao Arroio das
Pedras, na divisa entre o Cerrito e a Buena. Atravessando uma restinga de matos
e se aproximando do local, a súcia tem intenção de assaltar a propriedade do
sujeito que dizem ser conhecido como
homem de moeda. No entanto, após terem sido avistados por uma escrava da
casa, que adentra a residência em desespero e aos gritos, os bandidos encontram
a residência já completamente fechada. No interior da casa, sitiados seus
moradores aguardam a desistência dos criminosos. Contudo, os bandoleiros
desferem uma descarga violenta de tiros na moradia, antes de se retirarem,
quase vitimando uma criança recém-nascida que se encontrava ali abrigada. O
ataque à casa de Domingos Antônio Barbosa causa muito espanto na região. Duas
coisas passam a pesar após mais uma brutalidade de Juvêncio Pereira e seus
quadrilheiros: as autoridades da região não podiam mais tolerar tantos
episódios de violência; os bandidos tinham atacado uma pessoa influente da
região, providências iriam ser tomadas com mais celeridade.
Usando de intimidação e violência, as polícias de
Pelotas, Canguçu, Piratini, Arroio Grande e até Jaguarão se colocam na
perseguição implacável a Juvêncio Pereira e seu bando. Abusos são cometidos e a
imprensa noticia o desconforto da população em vários rincões. A casa de
parentes dos Couto no interior de Canguçu sofre uma abordagem violenta da
polícia em busca de informações.
No dia 15 de abril, num local próximo ao Passo do
Machado, Canguçu, ocorre um novo e decisivo confronto entre o bando de Juvêncio
Pereira e as forças policiais. O tenente Augusto César da Cunha e o capitão João Manoel Barbosa de Menezes no comando de uma grande linha de policiais de
Canguçu, Buena e Cerrito, cerca de 50 homens ao todo, infringem perdas
significativas ao bando e praticamente aniquilam sua ação na região. Após um
tiroteio intenso nos campos e matas da região, em que os cavalos são
instrumentos de combate valiosos, muitos bandidos são mortos e presos. Na mesma
empreitada, o tenente Cunha – homem conhecido por seu caráter enérgico e
obstinado – consegue numa perseguição praticamente individual capturar o “número
dois” da quadrilha: o braço-direito de Juvêncio, Galiano Couto. A prisão de
Galiano é um duro baque ao bando. Os Couto eram diretamente responsáveis pelo
provimento de armas, munições e mantimentos aos bandoleiros, devido às suas
ligações pessoais. A população da Serra dos Tapes e os jornais festejam o
sucesso da autoridade pública.
Quase que de forma concomitante, outros bandidos são
presos em diversos municípios da zona sul. Ocorre uma grande devassa contra os criminosos. No Passo do Vieira, no
Chasqueiro, na Serra das Asperezas, e até na Vila de Camaquã, vários delinquentes
ligados à quadrilha são capturados.
O destino final de Juvêncio Pereira
Apesar do
revés sofrido no Passo do Machado, Juvêncio Pereira não foi capturado. Mas abandona
a região e volta a se esconder. O resto do ano é de um silêncio enigmático
sobre o seu paradeiro. Alguns consideram a possibilidade de ele estar morto,
pois foi ferido na grande batalha de abril. Ledo engano. O ano de 1885 segue
até o seu final sem notícias concretas sobre Juvêncio, apenas boatos. Mas o ano
seguinte volta a registrar movimentos do malfeitor.
Em 05 de janeiro de 1886, uma escolta de 15 praças do 5º. Regimento de Bagé se instala na
estação ferroviária do Cerro Chato, após um pedido de socorro da direção da
estrada de ferro que avisa que o bando de Juvêncio vagueia a região. É possível
que Juvêncio tenha reunido novas asseclas durante o ano anterior, mas sua
capacidade de ação encontra-se reduzida. Provavelmente não contava com mais de
cinco pessoas. No mesmo mês, no dia 17, Juvêncio e um companheiro são vistos tomando cerveja no Hotel São Pedro na
cidade de Pelotas. Avisada a polícia, não encontra nenhum rastro dos meliantes.
Sucedem assaltos malogrados em algumas localidades rurais de Pelotas e Canguçu.
Não há o mesmo furor de outros tempos. Durante o ano Juvêncio ainda cometerá
algumas barbaridades no interior de Bagé. Todavia, caçado pela polícia e
duramente fustigado.
Em janeiro de 1887, um relatório de autoria do
delegado Pedro Baptista Corrêa da Câmara de Canguçu enviado à capital da
província é taxativo: Juvêncio Pereira refugiou-se em Rivera, no Uruguay. Os
supostos bandoleiros de Juvêncio encontram-se dispersos, presos ou mortos. Era
o fim do terror da Serra dos Tapes.
Apesar do exílio, o mito ainda persistiu
Em março de
1888, uma quadrilha atacou e manteve em cárcere privado a família de Mathias
Franck, agricultor estabelecido em Santa Isabel, Arroio Grande. O pobre
lavrador é obrigado a dar a quantia de quatro contos de réis aos três bandidos.
Libertada a família, um detalhe é descoberto pela polícia: quando sequestrado,
Mathias Franck foi amordaçado com um lenço que tinha um bordado a retraz com o nome de Juvencio Pereira. Não era o
célebre criminoso, muito menos provável que fosse ainda algum do bando. O fato
é que o mito de seu nome servia para impor medo. Meliantes de outras paragens
entendiam que ter seus nomes vinculados à figura de Juvêncio era sinônimo de
ser respeitado e temido.
Os anos se passaram e quem assumiu a herança maldita
de Juvêncio Pereira foi Serrão Pacheco, agora agindo quase exclusivamente no
interior de Canguçu. Apesar de suas bandidagens, com o início da Revolução
Federalista em 1893, Pacheco não precisará se preocupar muito. É alçado pelas
forças maragatas a um posto militar combatendo ao lado dos federalistas. Vários
de seus bandoleiros igualmente serão transformados em honrados soldados. Fatos
de um passado em que o Rio Grande do Sul vivia a ferro e fogo.
segunda-feira, 8 de maio de 2017
Negro Miguel e os Bandoleiros do Cerro das Almas
Fonte: Diário de Notícias, 09 de julho de 1958, pág. 10 |
Negro
Miguel foi um salteador que marcou época no Capão do Leão na década de 1950,
por seus roubos e fugas espetaculares na zona rural do município, líder da
trupe criminosa que ficou outrora conhecida como Os Bandoleiros do Cerro das Almas. Sua fama se tornou lendária na
memória dos moradores mais antigos da região e sua saga de delinquências
repercutiu na imprensa da época, chegando mesmo a estampar as páginas de
importantes jornais da capital.
Negro Miguel, cujo nome de
batismo era Miguel Garcia, filho de uma lavadeira e de um trabalhador rural
(que não eram casados), nasceu em 1927 na fazenda São Carlos no distrito do
Pavão. Teve outros irmãos, mas aparentemente nem todos eram do mesmo pai. Na
juventude, chegou a trabalhar em lavouras de arroz com um senhor chamado Donga Caldeira. Nestas empreitadas, em
que se prestava serviço de uma fazenda à outra na mesma temporada, Miguel
começou a praticar pequenos roubos, quase sempre para comer, furtando galinhas e
gêneros alimentícios. Com o tempo, a fama de ladrãozinho se espalhou nas circunvizinhanças e muitos donos de
sítios e chácaras evitavam contratar Miguel para qualquer serviço. A partir
daí, Miguel passou a realizar crimes mais ousados como abigeatos e roubo a
residências rurais.
Em 1949, foi preso pela primeira
vez pela polícia local e levado à Vila do Capão do Leão, onde segundo suas
próprias memórias foi espancado e torturado, o que lhe arraigou um profundo
ódio a qualquer policial a partir de então. Contudo, ainda esteve solto por
alguns anos e se amancebou com uma moça de nome Delmira, filha de um senhor
chamado José que possuía um rancho no Cerro das Almas. Deste relacionamento,
provavelmente teve uma filha.
Todavia, a vida familiar não impediu que Miguel
seguisse com seus crimes que, segundo relatos da época, passaram a acontecer
também na Vila do Capão do Leão. Várias vezes foi apanhado, mas solto por falta
de provas ou após receber um corretivo (surra). Por volta de 1954, incidiu a
agir com alguns comparsas vivendo de forma nômade, onde começou a se criar o
primeiro boato sobre os famigerados Bandoleiros
do Cerro das Almas ou Bandoleiros do
Cerro do Gerivá (alusão a um dos cerros da região em que os criminosos se
abrigavam). Em 1955, foi capturado
por um peão de uma estância no Passo das Pedras quando tentava roubar objetos
de um galpão e entregue às autoridades. Julgado logo em seguida por uma série
de crimes (alguns dos quais não havia cometido, mas curiosamente não fazia
questão de negá-los), Miguel foi condenado a permanecer recluso durante quatro
anos na Colônia Penal Agrícola em São Jerônimo. Porém, fugiu de lá cerca de um
ano depois e seu retorno marcou a época de maior atividade de Miguel e de seu
bando. Destacava-se no grupo de bandidos um cúmplice de apelido Castelhano (Mário Torres González,
uruguaio), ao que parece mais esperto e engenhoso que o próprio Miguel e mais outros
quatro comparsas, dentre eles Lalinho (Eulálio
Celestino Nunes), Camilinho (Camilo
Bento Cardoso) e Juvenal (Juvenal da
Silva Pereira) e mais um jovem ruivo conhecido como Melenudo (cujo nome real não foi conhecido). Não é possível afirmar
até que ponto constituíam realmente uma quadrilha organizada ou agiam em
conjunto somente por ocasião. Consta nos inquéritos policiais que havia muita
rivalidade entre eles e que muitas vezes boicotavam um ao outro, além de agirem
por conta própria em alguns crimes. Aliás, um deles, um tal de Marques (provavelmente um comparsa da
época do início do bando), teria sido
morto numa contenda entre eles.
Em 1958, a prioridade da polícia
leonense era prender Miguel e seu bando custe o que custasse. A fama dos
criminosos se estendeu nos dois últimos anos e aterrorizava a população. Em
março, houve violento tiroteio entre os bandidos e uma patrulha policial
conjunta da Brigada Militar e Polícia Civil formada por cerca de 20 homens no
chamado Cerro do Lombilho, cujas furnas de pedra eram usadas como esconderijos
pelos bandidos. Na ocasião, o capitão da BM Armando Brião esteve na mira fatal
do revólver de Miguel Garcia, que de modo surpreendente, poupou-lhe a vida,
embrenhando-se no meio da vegetação. O delegado Athos Luiz Guedes da Polícia
Civil também escapou de ser morto por Melenudo,
que somente não conseguira efetuar o disparo por ter escorregado numa pedra
úmida.
Logo em seguida, no fim daquele
mês, dois bandoleiros (Lalinho e
Camilinho) foram presos na Vila Freire (atual município de Cerrito) pelo
subdelegado da localidade Pedro da Vara, após assaltarem três casas comerciais
e se esconderam num depósito de trigo. Juvenal
que conseguira fugir com metade do roubo, morreu tragicamente (exaustão e
hipotermia) ao tentar cruzar o canal São Gonçalo a nado, no inverno daquele
ano, após ser expulso a tiros por peões de uma estância em Santa Isabel, no
município de Arroio Grande.
Já o dito Castelhano foi capturado pela polícia numa tentativa malograda de
roubo a uma casa na colônia Santa Áurea, no interior de Pelotas, cerca de
poucos dias depois.
Em maio, Miguel cometeria seu mais bárbaro crime: o
frio assassinato de Felício Rodrigues da Silva, de 62 anos, que tinha o apelido
de Feliz. Nos inquéritos, Miguel
declarou que sangrara Felício porque ele
era pecador. A opinião de Miguel sobre o desafeto tinha motivo sustentado
pelo comportamento dúbio do próprio Felício. Felício teria participado de algumas
atividades criminosas do bando de Miguel, inclusive frequentado várias vezes o
acampamento dos salteadores. Apesar disso, Felício tinha um rancho próprio na
região e agia como homem de bem perante os vizinhos – acusação sustentada pelo
próprio Miguel. Para uns, Miguel vingara-se de Felício por este ter indicado às
patrulhas que estavam em seu encalço o esconderijo do bandoleiro. No entanto,
em seu depoimento Miguel citou motivações particulares para matar Felício,
dentre elas o fato de alegar que o infeliz
chegou até a inventar que eu tinha cortado umas crianças lá para as bandas de
Herval... Mas como eu cortar inocentes? Em criança e em paisano eu não atiro
nem corto. A crueldade do assassinato de Felício reside no fato que o mesmo
foi atado a uma corda (na outra ponta atada à égua rosilha de Miguel) e
arrastado por cerca de uma hora rumo a um cerro da região, onde foi morto a
facadas. Felício morreu agonizando com muita perda de sangue, enquanto Miguel
ao lado do corpo assistia o suplício do infeliz, que durou cerca de vinte
minutos. Depois, o cadáver foi coberto com ramagens pelo algoz.
Miguel Garcia foi finalmente
capturado na tarde do dia 07 de Julho de 1958, quando foi avistado caminhando
pela Estrada do Cerro das Almas por dois homens a cavalo que imediatamente se
puseram em sua perseguição. Ao fugir, Miguel tentou cruzar uma sanga, molhando
sua arma e munição, tornando-o assim indefeso à investida dos dois homens, que
logo foram auxiliados por outros moradores da região que o renderam
completamente. Conduzido pelo capitão Armando Brião ao subdestacamento da
polícia na Vila de Capão do Leão, foi interrogado e revelou o paradeiro do
cadáver de Felício e o esconderijo onde guardava os frutos de seus roubos. Entre
os objetos furtados, foram encontrados desde objetos de uso comum da vida
campeira, como facas e apetrechos de selaria, até alguns mais sofisticados como
três acordeons, um porta-joias de ouro e um gramofone. Mais tarde Miguel seria
levado para Pelotas e conduzido à cadeia municipal. Quando capturado, Miguel
Garcia apresentava um profundo ferimento no pescoço que fora causado por ele
próprio com uma faca durante uma noite em que teve um pesadelo. A ferida era
horrível e exala um mau cheiro característico pela presença de bernes de
moscas.
No início de 1959, um pouco
antes de sua sentença ser pronunciada pela Justiça local, Miguel conseguiu
novamente escapar da prisão. Em 01 de março daquele ano, Miguel Garcia foi
morto em um tiroteio com a polícia em Tupanciretã, na região central do estado.
De seu bando, o único que sobrou foi Melenudo
– jamais identificado com segurança, por isso sem saber-se de seu destino
posterior.
Desde então, a história de Miguel Garcia passou à
categoria de lenda no local e muitas de suas façanhas (reais e fictícias) são
contadas ainda hoje em dia pelos mais velhos em Capão do Leão.
Atualização em 25 de maio de 2007: De acordo com a colaboradora Carolina Blaz, temos a seguinte contribuição:
. A minha avó conta que um dos homens que laçou ele e entregou pra Polícia foi o Miguel pé queimado(miguel Antunes) ele viu o Miguel quando saiu do cerro pra pegar comida na venda da granja e rondou quando ele ia se atirar da taipa de um açude pra fugir deles ele (Miguel Antunes) conseguiu laçar ele e entregar só Brião.
Atualização em 25 de maio de 2007: De acordo com a colaboradora Carolina Blaz, temos a seguinte contribuição:
. A minha avó conta que um dos homens que laçou ele e entregou pra Polícia foi o Miguel pé queimado(miguel Antunes) ele viu o Miguel quando saiu do cerro pra pegar comida na venda da granja e rondou quando ele ia se atirar da taipa de um açude pra fugir deles ele (Miguel Antunes) conseguiu laçar ele e entregar só Brião.
Muito obrigado!