Entrevista com o Sr. Osmar
Müller
Realizada pelo autor e por
Luiz Teixeira em 13-05-2006
Referência: Antiga
Subprefeitura do Capão do Leão
“Informado do projeto de intervenção
no prédio da antiga subprefeitura, o Sr. Osmar informa que com a emancipação os
documentos daquela repartição pública foram transferidos ao Arquivo Público
Municipal de Pelotas.
Iniciada a entrevista, o Sr. Osmar
relata que veio para Capão do Leão em 1954, tendo trabalhado 15 anos e quatro
meses na Usina Elétrica do distrito. Narra que o fornecimento de energia, na
época, ia das 18hs às 24hs. Em dias de baile nos salões, a energia era mantida
a noite toda. Relata também que sempre duas pessoas trabalhavam na Usina
Elétrica, tendo ele permanecido sempre nesta função. Outro funcionário que
durante certa época trabalhou ali foi o Sr. Ataíde Moura. O Sr. Osmar reconhece
que é uma pessoa que não teve oportunidade de ir à escola, pois morava no Passo
do Descanso (zona rural). Por isso, aprendeu a ler com jornais que vinham para
a Usina Elétrica.
Indagado sobre o entorno do prédio
da antiga subprefeitura, o Sr. Osmar responde que havia um galpão grande onde
cabiam uma caçamba, um jipe e uma ambulância. Havia também um galpão menor,
tipo ‘uma casinha’, construído pelo Sr. Hugo Albuquerque. Outra informação é a
existência de uma caixa-d’água que trazia água potável da Pedreira Municipal.
Sobre o Sr. Hugo Albuquerque, também há a informação de que este foi morador da
casa antes do Sr. Osmar Müller. O Sr. Osmar foi morar na casa em 1974, a convite
do subprefeito Rui Victória. O Sr. Osmar e família permaneceram ali até 1983.
Trabalhava como motorista da ambulância e afirma que não tinha problema algum
com qualquer tipo de serviço, por esta razão, executando também outras coisas.
Fala, adiante, que trabalhou com o
Sr. João Viegas, subprefeito. Enumera, a seguir, os subprefeitos com quem
trabalhou a partir de 1954: Vílson Castro, Poty Reis, Vasconcelos (inspetor de
polícia em Pelotas), Armando Brião, Cabo Jardim, Brião (de novo), Osmar Pereira
Alves e João Viegas. Quanto ao que tinha a subprefeitura, o Sr. Osmar observa
que além da caçamba e do jipe, havia uma máquina de debulhar, um ‘tratorzinho’,
uma turma para manutenção de estradas bem como escavação de cascalho.
Voltando a Usina Elétrica, chega-se
a informação de que esta era uma extensão da subprefeitura. Outro aspecto
importante lembrado é o fato do cargo de subprefeito estar vinculado ao cargo
de subdelegado. ‘Cargos juntos’ – como comenta o Sr. Osmar. Ele exemplifica o
caso do Sr. João Viegas.
Perguntamos, então, sobre os prédios
da Rua Professor Agostinho. Ele define a fábrica de café como um ‘fabriqueta’.
O dono da fábrica era um Traverssi e a marca produzida era o Café Índio.
Explicitou também o funcionamento do Cinema Guarani, relatando que, além das
exibições cinematográficas, ocorriam também bailes. Exalta o cine: ‘era um
cinema muito lindo, havia arquibancadas altas, camarotes com cadeiras... Nós
assistíamos filmes do Mazzaropi, Gordo e Magro, Noivo da Girafa’. Inquirido
sobre o teatro, ele resume que ‘não é do seu tempo’. Isto é, não tem lembranças
de seu funcionamento.
Passando à questão dos funcionários
da subprefeitura, o Sr. Osmar coloca que se fazia troça sobre ‘os amanuenses do
subprefeito’. Cita, contudo, alguns:
- Leopoldo Martins da Luz, pai do Jadir, do
Frio. Aquele era escriturário, bem antigo na repartição;
- Júlio Emílio Knopp, ‘velho alemão de
Pelotas’. Escriturário também destacava notas, cuidava de empréstimos de
sementes e implementos agrícolas;
- Hugo Albuquerque, também escriturário;
- Paulo Ribeiro, motorista;
- Selmar Ribeiro, motorista;
- João Luís Villar, motorista.
Este último dividiu a casa quando o Sr.
Osmar habitou o prédio da antiga subprefeitura, digo, habitou conjuntamente. O
Sr. Osmar relata o telefone no ‘meio da porta’ que dividia seus aposentos com
os do Sr. João Luís Villar. ‘Telefone antigo, de manivela’ – completa. O
telefone servia para os dois.
Sobre a cena política do Capão do Leão
naquela época, o Sr. Osmar recordou que não era muito comum a visita de
políticos no distrito. Quando apareciam, ofereciam ‘churrasco e cervejada’ para
o povo. Lembra-se de comícios assim no ‘passinho’ que sai do Cerro das Almas.
Depois, vieram a realizar os comícios em salões, no mesmo estilo.
Averiguamos também sobre a disposição das
salas internas do prédio da antiga subprefeitura. O Sr. Osmar rememora que o
gabinete do subprefeito ficava na sala à direita, logo após a entrada. Na sala
da entrada, funcionava uma espécie de recepção – ‘salão grande’ – com um balcão
que abarcava todo o comprimento da peça e que servia para delimitar as áreas de
serviço e pública. Havia divisórias de madeira na casa, além das paredes de
concreto. Várias mesas e escrivaninhas também. A cozinha na peça dos fundos.
Os subprefeitos, ao que parece, andavam
muito em Pelotas, para pedir providências e recursos.
Dona Alvina, sua esposa, neste momento,
interveio e narrou que quando moravam na casa, criavam perus, marrecos e
galinhas em razão da proximidade do açude.
Com certo ressentimento, o Sr. Osmar conta
como foi retirado da casa, em 1983. Foi informado pelo prefeito da época,
Elberto Madruga, num memorando que lhe dava trinta dias para deixar aquele
local. Reclama que sempre votara em Madruga quando este fora candidato a
vereador de Pelotas.
Outro dado: informa que o almoxarifado
ficava ao lado do banheiro. Além deste ponto, diz que o galpão grande ficava na
entrada, ou próximo da entrada da Ivaí (firma existente hoje ao lado da área).
Indagado sobre tal, comenta que o entorno da casa era ajardinado, repleto de
canteiros, fechado por tela, com ‘estradinha para entrar’. ‘Lugar muito
bonito!’ Relata, a seguir, que o Sr. Hugo Albuquerque fez uma chácara nos
arredores, com pessegueiros, laranjeiras, etc. Plantou-se acácias também, que
foram, posteriormente, cortadas para fazer lenha. Adiciona que já naquela época
as pessoas já se admiravam com o prédio e sua resistência ao tempo. (Creio se
tratar décadas de 1960 e 1970, NOTA PESSOAL). Havia reformas regulares no
madeiramento, pois o telhado, por vezes, abaixava e surgiam goteiras. Diz que
as telhas eram goivas, antigas. Aspecto interessante por ele observado é que,
quando foi trabalhar na casa, recorda-se que o madeiramento do telhado era
composto de uma madeira ‘falquejada a machado’. Sobre o muro frontal, não
confirma que fosse abalaustrado e sim inteiriço.
Já no momento em que nos encaminhávamos
para a conclusão. Abordamos o ‘centro’ do Capão do Leão na época do Sr. Osmar
Müller. Ele foi contundente: ‘bem pobrezinho, não tinha muita coisa!’ De importante
ele ressaltou o salão do Manoel Selmo (que depois se tornou o restaurante do
Sr. Seriaco Cantarelli). Sobre este, o define como ‘homem de bem’, trabalhador
e rico. O pai de Manoel Selmo seria um exemplo: ‘homem velho trabalhador’.
O trânsito para Pedro Osório, Jaguarão e
Herval passava pelo Capão do Leão, no curso da avenida (atual) Narciso Silva. O
Passo do Capão do Leão era uma espécie de ‘motel natural’ dos jovens. Era um
lugar pacífico, o quarto distrito, sem greves e sem agitações políticas ou sociais.
Sobre as casas da Rua Professor Agostinho
(a rua tinha esta denominação desde aquela época) indica que eram propriedades
do Sr. Nélson Traverssi, irmão do dono do Café Índio. Este Sr. Nélson era dono
do Britador na beira dos trilhos, tinha ‘firma forte’, também era parente do
Manoel Selmo. Ao que indicou-nos, as casas da Rua Professor Agostinho eram
moradas dos empregados do Sr. Nélson, que cobrava aluguel mesmo assim. Relata
que em 1954, as ‘casinhas pareciam ainda novas’. Com informações dispersas, encerra
que os Traverssi foram ricos e importantes, chegando a levarem dois caminhões
‘cheios de gente’ para o Cerro das Almas. Manoel dos Santos também trabalhou
com os Traverssi.
Observações: no local da atual pista de rodeios
do CTG Tropeiros do Sul havia um arvoredo. Árvores antigas, segundo o Sr.
Osmar: ‘orelhas de negro’ com quatro a cinco metros de largura de tronco. O Sr.
Osmar argumenta que estas árvores apodreceram em razão das explosões que
ocorriam nas pedreiras. Outro dado: no prédio, ao lado do banheiro, havia um
almoxarifado e no banheiro havia uma banheira antiga.”