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sábado, 27 de agosto de 2016

Histórias Curiosas XXV

Trabalhador, honesto, respeitado e bem conhecido na Vila do Capão do Leão, o sujeito tinha um defeito que lhe rendia uma boa fama nas ruas da localidade: era um "barbeiro" de longa data. Era ele sentar diante do volante que o pânico estava instalado nas ruas e estradas. Dizia-se que o citado era extremamente distraído e isso se devia a um problema de visão que lhe acompanhava desde a infância. Mas, o fato é que havia tirado a carta de motorista e transitava de um lado para o outro como se não houvesse amanhã.
Conseguiu, então, comprar uma picape (camionete) Ford (daqueles modelos lançados nos anos 70) usada que lhe era muito útil no dia-a-dia. Duas vezes por dia, ele cruzava a Avenida Narciso Silva a todo vapor, uma de manhãzinha e outra à tardinha. Cada vez que aquela camionete aparecia na avenida era um terror. Cachorro, pedestre, charrete...o que estivesse em seu caminho...sai da frente! Ele vinha levantando tudo pelos ares.
Foi então que, novamente muito apressado, o sujeito e seu "fordinho" (como ele mesmo denominava) adentraram a avenida Narciso Silva vindo do Cerro das Almas. Querendo chegar logo a seu destino, o notório "barbeiro" irritou-se ao perceber que um caminhão manobrava na via, querendo sair de um pátio para seguir adiante. Foi o tempo do caminhão tomar rumo e o "barbeirão" acelerou forte com a camionete, sem se dar conta que havia uma moto estacionada logo adiante, encostada junto ao meio-fio. Resultado, a motinha virou um brinquedo nas rodas da camionete, sendo cinematograficamente catapultada vários metros na calçada e o "barbeirão" seguiu como se nada tivesse acontecido. Poderia parecer maldade do sujeito, mas quem o conheceu é categórico em afirmar que ele realmente não se dava conta das barbeiragens que cometia, muito provavelmente pelo espírito distraído e a baixa visão. Estava mais para um "bobo irresponsável" na direção, do que um "patife irresponsável". Como tirou a habilitação de motorista? Bem, os tempos eram outros no País.
Mas voltando ao cerne do relato, o fato é que a motinha ficou estraçalhada na calçada e o sujeito seguiu sabe se lá para onde em sua pressa habitual. Resolveu o que queria resolver e parou para reabastecer no antigo Posto Kaiser (na esquina da Avenida Narciso Silva com a Rua João Rouget Peres) quando já estava iniciando a noitinha. Sai do carro, conversa com um, conversa com outro, quando um dos funcionários do posto comenta no grupo que estava reunido no posto, entre outros funcionários e clientes, o seguinte:
- Bah, o Zé Paulo está inconsolável, uma camionete bateu na moto dele lá perto do Esmelindro e o motorista se mandou!
O "barbeirão" muito surpreso quer saber mais e indaga:
- Mas o Zé Paulo viu quem era o motorista?
O funcionário responde:
- Olha, ele estava trabalhando nos fundos de casa e não viu, mas parece que a Dona Nair viu um detalhe na camionete, mas não sei se ele ainda identificou quem era.
Eis que o "barbeirão" comenta muito indignado:
- Pois é, né tchê?! Que barbaridade, como tem gente despreparada hoje em dia dirigindo...vai ver que o sujeito não é daqui. Eu até me revolto com um troço desses!

Dias depois, o "barbeirão" pagava o conserto da moto religiosamente e se perguntava como havia batido na mesma sem se dar conta.

Nota: os nomes usados são fictícios.