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domingo, 7 de junho de 2015

A Colônia Francesa Santo Antônio em Pelotas

Trecho extraído de: SACCARO, Alice. A formação da colônia francesa na segunda metade do século XIX e sua importância para a cidade de Pelotas. In: Novas Fronteiras: Revista Acadêmica dos Alunos de Relações Internacionais da ESPM-Sul. Porto Alegre/RS, v.01, n. 01, março 2014, sem indicação da página.

NOTA MINHA: muitos descendentes dos colonos franceses da Colônia Santo Antônio de Pelotas adquiriram várias propriedades em Capão do Leão, nas décadas finais do século XIX e décadas iniciais do século XX. Grifei o nome de Amadeo Gustavo Gastal (Gastaud), pois este personagem foi pai dos irmãos Eduardo e Gabriel Gastal que foram donos de toda a área do Cerro do Estado (antigo Cerro das Pombas) antes da vinda da Companhia Francesa em 1909. Além deles, famílias como Adam, Guingamp e Carret foram outras que tiveram descendentes estabelecidos em Capão do Leão. Vale lembrar que aqui tivemos uma "Fazenda Gastal", uma "Vila Carret" e um "Sítio Santa Heloísa" (em homenagem a esta santa francesa). 

Eis o texto:

A importância da Colônia Francesa para a cidade de Pelotas   
Um dos maiores problemas que o historiador encontra quando se trata de colonização e imigração no Brasil, são os dados estatísticos (PETRONE, 1984). No caso da colonização no Rio Grande do Sul, não se encontram números exatos sobre a quantidade de imigrantes que aqui se estabeleceram. Porém, no caso da cidade de Pelotas, outros registros podem ser usados para se ter uma representação numérica das diferentes nacionalidades.  Entre 1859 e 1875 entraram na Província 12.563 imigrantes, sendo 648 de origem francesa (CASTRO, 1876). Porém, não se sabe a quantidade exata dessas pessoas que se estabeleceram na região de Pelotas. Uma proporção aproximada das nacionalidades dos habitantes dessa área na segunda metade do século XIX pode ser observada nos dados de registros da Santa Casa de Misericórdia da cidade. Na tabela abaixo, percebe-se que os portugueses foram os principais colonizadores da cidade, mantendo a sua superioridade nos dois períodos. Em seguida, percebe-se a maior quantidade de alemães e italianos, que se revezam no segundo lugar, sendo que os italianos são superiores no segundo quartel do século devido à imigração promovida pelo governo Imperial e Provincial para esse grupo. Em relação aos franceses, percebe-se que mesmo antes da fundação das colônias de Dom Feliciano e Santo Antônio, eles já se destacavam como grupo populacional na cidade, sendo que a sua população aumentou 2,5 vezes de um período para o outro.   
(...) 
Logo no início, os colonos franceses se dedicaram à agricultura, sendo que os primeiros produtos cultivados foram feijão e milho, ou seja, produtos para a sua subsistência. Enquanto os colonos esperavam pelo período da colheita, os imigrantes juntavam cascas de plantas nativas, como por exemplo, de arueira e goiabeira, que eram levados aos curtumes de Pelotas, onde eram usados na produção de couro. Além disso, devido à derrubada das matas, também houve um comércio de madeiras de diversas espécies. (GRANDO, 1990) Porém, a Colônia de Santo Antônio começou a ganhar notoriedade com as culturas da uva e da alfafa.  Em relação à plantação de uva, os franceses foram os pioneiros na região do município de Pelotas. Eles “escolheram um traço cultural trazido da França e deram início à vinicultura” (BETEMPS; CERQUEIRA, 2007, p.3). A maioria da produção era destinada para consumo próprio, sendo que essa cultura não foi possível se tornar mais comercial devido à concorrência com outras colônias, em especial da Serra Gaúcha, bem como devido à falta de apoio governamental. Entre os anos de 1880 até próximo ao final do século XIX, a alfafa foi inserida na Colônia de Santo Antônio e se tornou a principal fonte de renda dos colonos nesse período. Os imigrantes franceses foram os primeiros a cultivar alfafa como uma cultura extensiva, tornando a sua colônia o centro produtor desse produto na região. Esse produto foi a primeira cultura explorada para fins comerciais pelos imigrantes, sendo que nesse momento os agricultores conseguiram obter um maior lucro. Esse fato se deve à uma demanda interna considerável por esse material, que tinha que ser suprida pela importação, na maior parte da Argentina. A alfafa era principalmente usada para os animais de tração que eram utilizados nas fazendas, bem como para os animais que serviam para o transporte de cargas e pessoas. Com essa integração ao sistema econômico, a colônia pôde começar a corresponder às expectativas, em especial dos governos. Essa expectativa era a de introduzir uma agricultura que produzisse excedentes em uma região em que apresentava destaque para a pecuária e a indústria do charque, mas poucas atividades agrícolas. Com o tempo, além da agricultura, começou a surgir um comércio local, um artesanato variado e, mais tarde, a agroindústria. (GRANDO, 1990) No final do século XIX, iniciou-se um processo de substituição dos parreirais por pessegueiros. A partir desse momento, os imigrantes inseriram um dos seus maiores legados na economia da cidade de Pelotas: a fruticultura e a produção de compotas de frutas.  Em 1867, o imigrante francês Amadeo Gustavo Gastal [grifo do autor do blog] foi à França para buscar conhecimentos sobre o beneficiamento industrial de frutas. Da França também importou os equipamentos necessários para essa produção, e, em 1868 produziu as primeiras compotas de pêssego. “Seus produtos eram de excelente qualidade e vendidos em embalagens requintadas, com vistosos e coloridos rótulos de fabricação francesa”.  (GRANDO, 1990, p. 104). Essa atividade, diferentemente da vitivinicultura, não surgiu como uma atividade destinada para o abastecimento familiar e da colônia. Desde o seu começo:  
Esteve [...] integrada na estrutura de uma economia comercial. Pode contar com um mercado urbano já firmado e com certo grau de satisfação. Graças as relações comerciais já amplamente estabelecidas pela economia local, inseriu-se no mercado nacional, onde o produto ganhou renome pelo volume e qualidade.” (GRANDO, 1990, p. 104).   
Próximo ao final do século, essa indústria já era um assunto abordado por algumas mídias que se encontravam na cidade, como a Revista Agrícola do Rio Grande do Sul, em especial devido às diversas situações favoráveis a essa cultura que se encontravam na localidade. No ano de 1900 surgiu a primeira fábrica de conservas de pêssego em calda da região, localizada na Colônia de Santo Antônio, sendo que depois dessa, outras também começaram a surgir, não só na própria colônia como por toda a região em torno da mesma.  Com o passar dos anos, essa cultura foi se tornando cada vez mais importante para a economia da cidade. O cultivo do pêssego se espalhou para as outras colônias. Já no século XX, na década de 20, essa indústria apresentava um grande crescimento. Esses pioneiros foram quem auxiliaram no crescimento da economia da cidade, bem como foram de importância fundamental para Pelotas passar a ser “reconhecida como a cidade do doce e a maior cidade produtora de pêssegos”.  (BETEMPS, 1999, p. 11).  

Links recomendados:
Alexandre Gastaud
Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte IV
Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte III
Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte II
Imigração Francesa em Capão do Leão - Parte I
Franceses em Capão do Leão
Capão do Leão na obra "Franceses no Brasil"

A Imigração Italiana no Rio Grande do Sul: visão geral

Trecho extraído de: PANIS, Marcelo & OLIVEIRA, Melissa Ramos da Silva. Paisagem e arquitetura rural: o caso da região pelotense (RS). IN: Revista Labor & Engenho, Campinas/SP, v.2, n.1, 2008, p. 04.  

NOTA MINHA: a imigração espontânea de italianos foi o fenômeno que percebemos em Capão do Leão de 1880 até aproximadamente 1930. O grande número de italianos que tivemos na época da Companhia Francesa é um exemplo. Vide: Trabalhadores na Pedreira do Cerro do Estado e Italianos em Capão do Leão

"A vinda de imigrantes europeus não-portugueses para o Brasil, durante o século XIX, correspondia a uma demanda de mão-de-obra, de um lado, para as fazendas de café na região de São Paulo e, de outro lado, para as pequenas propriedades no Rio Grande do Sul, pela necessidade de se produzir gêneros alimentícios que suprissem o mercado interno local. 
É a partir da necessidade da produção de alimentos que os alemães vieram ao Brasil, por volta da década de 1820, motivados pelas campanhas de imigração do Governo Imperial. Estes se instalaram nos vales das principais bacias hidrográficas da região norte do estado do Rio Grande do Sul, com maior destaque para a Região do Vale dos Sinos, pertencente à atual Região Metropolitana de Porto Alegre. A segunda parte do processo seria a vinda dos imigrantes italianos a partir da década de 1870. 
O interesse do Governo Imperial estava voltado para a agricultura e a produção de alimentos que atendessem ao mercado interno. Neste sentido, a campanha de imigração do Brasil na Europa, trabalhar nestas terras, procurava apenas por agricultores de profissão, o que fazia com que muito imigrantes mentissem a profissão somente para poder vir para o Brasil e fugir da Itália em crise, por conta do processo de industrialização do norte, reflexo da segunda revolução industrial (DE BONI e COSTA, 1984, p. 83). 
Especificamente, a vinda dos italianos para o Brasil aconteceu de duas formas: a imigração espontânea e a imigração organizada. A primeira ocorria desde o final do primeiro quartel do século XIX. Baseava-se na vinda de famílias e indivíduos isolados que tentariam a sorte nas cidades que cresciam em população, território, verticalidade e demanda de serviços, devido à modernização – contavam para tanto com seus conhecimentos adquiridos na Europa (PEIXOTO, 2003, p. 8). Foram estas famílias de imigrantes, conforme destaca Anjos (1999, p. 40) que, instalados em Pelotas, passaram a dominar a rede de hotéis do município, os quais utilizavam, da mesma forma, para reuniões das famílias, como forma de garantir o fortalecimento da identidade cultural. 
A imigração organizada, promovida por particulares ou pelo próprio governo, consistia no sistema de parcerias, como caso das fazendas de café, e no trabalho assalariado, considerado mais rentável e mais produtivo do que a mão-de-obra escrava e, também, na venda da terra pelo governo para famílias de imigrantes, com o objetivo de estes produzirem alimentos para as cidades locais (PANIS, 2007, p.67)."