Um novo blog sobre o Capão do
Leão, no seu direito de liberdade de expressão, afirma numa das suas primeiras
postagens que “quase todas as pessoas que
se dedicam a fazer pesquisas sobre a história, a cultura e sociedade leonense o
fazem de forma elitista”. Fiquei deveras pensativo a respeito desta
opinião, que certamente tem os seus ajuizamentos, embora o texto não cite
nomes. Comecei, pois, a arrolar personagens que se dedicam a “fazer pesquisas
sobre a história, a cultura e sociedade leonense”. Identifiquei a mim mesmo, os
grandes amigos Arthur Victória e Bruno Farias, mais duas ou três pessoas que
divulgam pesquisas particulares, também na web. Inicialmente, fiquei sem
entender a afirmação. O que significa fazer pesquisa de “forma elitista”?
A impressão do autor do texto
parece-me muito precipitada, pois dá a entender que o mesmo parte de uma
conclusão íntima, que não foi ponderada adequadamente. O que me proponho é
esclarecer alguns pontos que achei fora do eixo.
A história leonense e os
primeiros estudos sobre a sociedade deste município remontam ao período
pós-emancipação, ainda na década de 1980, com o pioneirismo estampado em
artigos de jornal de Magda Costa e Vanderlei Petiz. Depois, em 1993, a pioneira
obra Capão do Leão: Povo Identidade
do frei Sylvio Dall’Agnol, que foi a primeira a propor um delineamento
histórico do Capão do Leão. Mais tarde, nos anos 2000, com a facilidade trazida
pela internet, outros trabalhos puderam ser expostos ao público, tanto o meu,
quanto dos amigos supracitados. De lá para cá, o que ficou claro é que muita
coisa sobre a história do Capão do Leão, em particular, estava sendo
descoberta, exposta, divulgada, discutida!
Agora tenho o meu ponto de
partida. O que quero apontar é que não consigo compreender que uma pesquisa
histórica ou pesquisa social sobre o Capão do Leão possa ser feita de modo
elitista. A razão para mim parece-me simples: todos aqueles que se dedicam a
este ínterim estão descobrindo fatos, formando acervos de informações sobre coisas
das quais pouco ou nada se sabia – literalmente “cavoucando” saberes. Como,
então, pode-se fazer pesquisa de modo elitista se sequer temos um conhecimento
histórico e/ou sociológico sobre o próprio município SUFICIENTEMENTE
construído? As fontes (documentos, fotos, artigos, textos, causos, etc.) que
nos chegam são divulgadas porque temos a importante preocupação de
explicitá-las, tornar suas informações ou aquilo a que elas remetem conhecidas.
Não selecionamos informação, ou achamos tal e tal coisa mais “bonita” que
outra. Numa pesquisa científica, você junta dados (estudem Metodologia!) e os
classifica.
O autor do texto induz que os
pesquisadores estariam predispostos a buscar este ou aquele elemento de
pesquisa, de acordo com uma predisposição pessoal, deixando o resto para trás,
como se estivessem qualificando este resto como algo menos importante. Só que
não existe resto! Conscientemente, busca-se ao contrário, aproveitar tudo
aquilo que pertença ao patrimônio cultural imaterial do município e compartilhá-lo!
Veja o caso da vizinha cidade
de Pelotas. Lá existe um conjunto de pesquisadores e obras por longo tempo
construído. Existem algumas referências sobre a história local que já são
pétreas. Neste caso, sim, há como fazer pesquisa “popular”, “elitista”,
“conservadora”, “moderna”, “marxista”, etc. e tal. Sobre Pelotas existe um
conhecimento consolidado e, dependendo do objeto de pesquisa, o sujeito
direciona seus métodos a chegar a conclusões pré-estabelecidas. Como fazer isso
aqui no Capão do Leão, onde o que mais se procura são informações sobre o passado...
Algumas destas informações que seriam básicas, ou eram desconhecidas, ou ainda
o são!
Outro trecho que achei sem
muito sentido é o seguinte: “Praticamente
desconsideram que todo morador está construindo e fazendo parte da história
local, independente de ter nascido na ‘Vila do Capão do Leão’ e visto a
emancipação acontecer, ou ter vindo morar aqui para trabalhar e construir a sua
família, somos todos leonenses e construímos dia após dia, a história, a
cultura e a sociedade do local no qual vivemos”. Sinceramente, não consigo
enxergar o que seja esta pretensa “desconsideração”, isto é, onde ela está
escrita ou subentendida, ou mesmo radicalmente afirmada em qualquer fonte
(impressa ou midiática). Aliás, nunca sequer teorizou a respeito de uma
identidade leonense. O que existe são estudos diversos sobre os mais diferentes
objetos, cujo foco procura a elucidação racional dos fatos. A impressão que
tenho é que o autor do texto compreende erroneamente os resultados das
pesquisas e termina por deduzir uma conclusão íntima, isenta de adequada avaliação.
Talvez ele compreenda que os
objetos pesquisados são excludentes em relação a outros fatos. Pode ser. A
questão é que aquilo que se pesquisa é o QUE SE PODE PESQUISAR ou QUE SE PODE
SER RACIONALIZADO E EXPLICADO. Simples assim. Aliás, não consigo perceber onde
ocorra um critério seletivo nas narrativas. Queria, sinceramente, exemplos.
Reservo-me ao direito da
réplica, pois considero que determinadas colocações carecem de argumentos
demonstrativos mais sólidos e coerentes. Não pretendo ofender ninguém, mas faço
o registro da minha opinião.