Trecho extraído de: LONER, Beatriz Ana. Economia e Trabalho na Região Sudeste do Rio Grande do Sul. Disponível em: www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/2/h7-04.pdf . páginas 13 e 14 do original em formato PDF.
"Mas talvez o pior caso, seja o enfrentado pela categoria dos graniteiros do Capão do Leão, as voltas com problemas referentes às empresas contratantes dos serviços, especialmente a Cia. Americana de Pavimientos e Construciones, motivo de três greves, apenas em 1936. Os problemas eram recorrentes: ou os operários eram pagos apenas com vales, ou então, os trabalhos eram paralisados e as famílias terminavam passando fome. Essa problemática aparecia nos jornais desde 193012, quando o Opinião Pública (1/12/1930) denunciou que os trabalhadores não eram pagos em dia, estando há 13 meses com seus salários atrasados e necessitando descontar seus vales com ágio de até 15%, em um armazém local, que, inclusive, se apressavam em defender, pois sem isso a situação seria ainda pior. Em 1933, em artigo sob o título As leis trabalhistas não são cumpridas em Pelotas, o mesmo jornal (27/6/1933) questionava sobre a atuação das centrais sindicais da cidade neste assunto. Em resposta, a FSP, ao qual o Sindicato dos Graniteiros era filiado, informava que havia sido feito memorial, entregue pessoalmente ao ministro,mas do qual não houvera resposta. Em setembro de 1935 o jornal denunciava que os trabalhos nas pedreiras municipais estavam paralisados, e cerca de 80 operários se encontravam desempregados, com suas famílias passando fome, apelando ao prefeito, para que solucionasse a questão . No início de 1936, eles entraram em greve, devido à falta de pagamento e à falta de gêneros no armazém da Cooperativa, mantido pela empresa, o qual havia dias dispunha apenas de pão. A Cia. alegou que nada poderia fazer, enquanto não recebesse do Estado a quantia que este lhe devia. Com a intervenção do prefeito de Pelotas e do deputado classista Austro de Oliveira, foi feito um acordo com a companhia, pela qual ela se comprometia a pagar, parceladamente, os três meses de salários atrasados e abastecer imediatamente a cooperativa, e eles voltaram ao trabalho (OP 21/2/1936). Mas foi apenas para paralisar novamente em maio, porque a companhia não respeitou a letra do acordo, nem quanto aos pagamentos em atraso, nem quanto ao sortimento regular do armazém da cooperativa que novamente estava vazio. Ainda nessa ocasião, os graniteiros aceitaram novo acordo, com intermediação da União Sindical e outros sindicatos, voltando ao trabalho.
Em cada um desses movimentos, porém, a Cia. conseguia créditos extras do governo do Estado, pelo que se pode considerar que havia um interesse da mesma em manter essa situação, fato que foi denunciado pelo deputado Carlos Santos na tribuna da assembléia gaúcha, em dezembro, quando houve a terceira greve. Em novembro e dezembro, os trabalhos foram paralisados e foi necessária uma mobilização de todos os sindicatos com o fim de arrecadar gêneros alimentícios para estas famílias, o mesmo fazendo a Prefeitura que entregou ranchos aos atingidos. O jornal A Evolução pregava a cassação do registro da
Cia. e o pagamento imediato dos salários e o A Opinião Pública também condenou duramente a situação.
Como resultado da greve de dezembro, o governo do Estado, através de intervenção da própria União Sindical, concedeu à Cia. Americana de Pavimientos e Construciones uma elevada quantia em adiantamento, por conta de pedra a ser fornecida para obras na barra de Rio Grande. Entretanto, os diretores da empresa ouviram inúmeros boatos sobre a instável situação política do Estado, devido às brigas entre Flores da Cunha e Getúlio e decidiram não colocar este dinheiro nas obras aqui situadas, mas aplicá-lo na Argentina, onde tinham negócios. Assim, em meados de 1937, ocorreu a quarta greve, em que os graniteiros gestionaram, junto ao prefeito, para conseguir que as pedreiras, pertencentes ao Estado, fossem postas a trabalhar sob a administração da Secretaria de Obras Públicas (OP 4/6/1937).
Aqui, vê-se o quanto era frágil a organização operária, que não tinha meios de impedir que os trabalhadores fossem manipulados dessa forma por uma companhia, a quem o governo não coibia a atuação, embora fosse também prejudicado por ela. Ao longo desses anos, o número dos graniteiros paulatinamente decaiu, mas mesmo assim continuavam nucleados ao redor de seu sindicato, numa situação grotesca, pois cada movimento de revolta terminava sendo instrumentalizado pela Cia., que auferia lucros com ele e tomava medidas apenas paliativas e enganosas com relação aos seus direitos. Por outro lado, as jogadas desta companhia eram conhecidas e denunciadas por vários setores, dos sindicatos à imprensa tradicional, passando pela Assembléia, mas nada era feito em favor destes operários, que cada vez mais se situavam na incômoda situação de pedintes."
Em cada um desses movimentos, porém, a Cia. conseguia créditos extras do governo do Estado, pelo que se pode considerar que havia um interesse da mesma em manter essa situação, fato que foi denunciado pelo deputado Carlos Santos na tribuna da assembléia gaúcha, em dezembro, quando houve a terceira greve. Em novembro e dezembro, os trabalhos foram paralisados e foi necessária uma mobilização de todos os sindicatos com o fim de arrecadar gêneros alimentícios para estas famílias, o mesmo fazendo a Prefeitura que entregou ranchos aos atingidos. O jornal A Evolução pregava a cassação do registro da
Cia. e o pagamento imediato dos salários e o A Opinião Pública também condenou duramente a situação.
Como resultado da greve de dezembro, o governo do Estado, através de intervenção da própria União Sindical, concedeu à Cia. Americana de Pavimientos e Construciones uma elevada quantia em adiantamento, por conta de pedra a ser fornecida para obras na barra de Rio Grande. Entretanto, os diretores da empresa ouviram inúmeros boatos sobre a instável situação política do Estado, devido às brigas entre Flores da Cunha e Getúlio e decidiram não colocar este dinheiro nas obras aqui situadas, mas aplicá-lo na Argentina, onde tinham negócios. Assim, em meados de 1937, ocorreu a quarta greve, em que os graniteiros gestionaram, junto ao prefeito, para conseguir que as pedreiras, pertencentes ao Estado, fossem postas a trabalhar sob a administração da Secretaria de Obras Públicas (OP 4/6/1937).
Aqui, vê-se o quanto era frágil a organização operária, que não tinha meios de impedir que os trabalhadores fossem manipulados dessa forma por uma companhia, a quem o governo não coibia a atuação, embora fosse também prejudicado por ela. Ao longo desses anos, o número dos graniteiros paulatinamente decaiu, mas mesmo assim continuavam nucleados ao redor de seu sindicato, numa situação grotesca, pois cada movimento de revolta terminava sendo instrumentalizado pela Cia., que auferia lucros com ele e tomava medidas apenas paliativas e enganosas com relação aos seus direitos. Por outro lado, as jogadas desta companhia eram conhecidas e denunciadas por vários setores, dos sindicatos à imprensa tradicional, passando pela Assembléia, mas nada era feito em favor destes operários, que cada vez mais se situavam na incômoda situação de pedintes."