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sábado, 9 de setembro de 2006

A Precária Situação da Ferrovia dos Franceses

Saindo do Cerro do Estado, descendo e contornando os cerros da Pedreira e atingindo a Vila Teodósio, onde junta-se à ferrovia Rio Grande-Cacequi, a Ferrovia dos Franceses sofre com o vandalismo e o abandono. Sua conservação é precária, estando sujeita à ação do tempo, embora este não seja o maior vilão.
Domingo, 27 de agosto, prôpus-me a realizar o trajeto da ferrovia, saindo do Km 6 (em frente ao Cemitério Santa Tecla), com o intuito de seguir até o Cerro do Estado. Já logo no início do caminho pude constatar a depredação dos trilhos e dormentes. Andando cerca de 200 metros chega-se ao ponto semi-circular onde a ferrovia tangencia a zona urbana. Existe um grnde barranco, onde avistam-se as casas. Cena lamentável esta! No lugar, o povo deposita lixo, o terreno tornou-se pantanoso e é muito complicado passar. Para piorar, existe o odor fétido do lixo orgânico. Segue-se mais um pouco e nota-se que a depredação é uma constante em todo o seu trajeto. Os trilhos e dormentes são simplesmente retirados à luz do dia!
A mata penetra gradativamente na linha, embora isso, ao menos, não seja um grande problema. No trecho entre os quilômetros 4 e 3, a mata toma conta de fato da ferrovia (tive que, em alguns pontos, passar agachado). Quanto mais se caminha, mais se tem um sentimento dúbio: o desamparo à história contrapõe-se à beleza das paisagens circundantes. Logo após o Km 3, o trecho está aberto, sem interferência da mata, só que aí é que começa-se a ver cenas mais estarrecedoras. Em alguns pontos, cerca de 80 metros de trilhos sumiram! Dentro da área do Cerro do Estado, avista-se uma carregadora abandonada, com majestoso sustentáculo, medindo o conjunto todo cerca de seis metros. Nesta região, a ferrovia está tomada por uma espécie de savana média, que dificulta muito a caminhada. Por fim, atingi a Praça do Deprec, onde terminei minha caminhada, profundamente marcado pela situação precária da linha férrea.
A Ferrovia dos Franceses foi construída pela Compagnie Auxiliaire des Chemins du Fer au Brésil, para serviço de transportes de pedras do Cerro do Estado para as obras da Barra do Rio Grande. Na época, o serviço de mineração era realizado pela Compagnie Française du Port du Rio Grande do Sul, que também era a firma responsável pela construção dos molhes da barra. A construção da ferrovia deu-se em 1910. Entretanto, há um detalhe curioso sobre esta ferrovia. A princípio ela sairia do Cerro do Estado e dirigir-se-ia a Rio Grande numa via única e paralela, sem se anexar à ferrovia RG-Cacequi. Inclusive, os franceses já tinham, à época, construído pilares no Arroio Padre Doutor, que serviriam para sustentar uma ponte férrea que ali seria construída. Dizem os antigos que as ruínas destes pilares existem até hoje lá, coisa que ainda não visualizei. O fato é que o Governo do Estado, naquela época, percebendo que iria pagar uma tarifa mais cara pela obra, em razão da construção de uma ferrovia exclusiva Cerro do Estado-Rio Grande, intervém e obriga a companhia franca a unir a linha à linha Rio Grande-Cacequi, nas imediações da Estação do Teodósio. Isso aconteceu em outubro de 1910. Os trilhos utilizados na construção da Ferrovia dos Franceses são os mesmos que estão sendo depredados. Eles vieram dos Estados Unidos da América e foram fabricados pela indústria metalúrgica S & M.